A nova tecnologia, denominada LetsRead (automatic assessment of reading ability of children), consegue “avaliar em tempo real a capacidade de leitura em voz alta das crianças” naquele nível de escolaridade, afirma a UC, numa nota hoje divulgada.

A tecnologia LetsRead, que foi desenvolvida por uma equipa de investigadores do Instituto de Telecomunicações (IT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), em parceria com a Microsoft, “traduz-se assim numa ferramenta bastante útil, não só para as crianças”, mas sobretudo para professores e tutores.

A capacidade de leitura é uma das principais metas curriculares do programa de português para o ensino básico (EB), estabelecendo, por exemplo, que um aluno do primeiro ano deve ser capaz de “ler um texto com articulação e entoação razoavelmente corretas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 55 palavras por minuto”.

Assente em modelos inteligentes de reconhecimento e processamento de fala de crianças com redes neuronais, esta tecnologia de aprendizagem assistida “deteta e quantifica o número de palavras corretas, erros de pronúncia, hesitações, velocidade de leitura e outros indicadores, calculando de forma automática um índice global de capacidade de leitura do aluno”, explica o coordenador do projeto, Fernando Perdigão, citado pela UC.

Através de “um processo simples e rápido”, acedendo a uma página web criada para o efeito, “o professor obtém o desempenho da turma, permitindo-lhe gerir melhor a expectativa do ano escolar, identificar dificuldades e corrigir discrepâncias entre alunos”, sustenta Fernando Perdigão.

Além disso, acrescenta o investigador e docente da FCTUC, este sistema inteligente poderá ser usado como “uma ferramenta didática ou para detetar problemas como, por exemplo, dislexia”.

Para desenvolver a LetsRead, os investigadores recolheram gravações de leitura de cerca de 300 crianças em escolas primárias da região Centro do país.

“Os textos que foram dados a ler aos alunos eram compostos por frases e pseudopalavras – palavras que não existem no léxico mas que são pronunciáveis e importantes para avaliar se um aluno sabe realmente aplicar as regras do código alfabético para ler”, refere a UC.

Numa segunda fase, as crianças foram avaliadas por mais de uma centena de professores do ensino básico em todo o país para validar o sistema.

A LetsRead está pronta para “ser implementada nas escolas do primeiro ciclo de ensino básico do país, assim o Ministério da Educação tenha essa vontade”, sublinham os investigadores envolvidos na criação da nova tecnologia.

O projeto, desenvolvido no âmbito da tese de doutoramento do investigador Jorge Proença, foi distinguido com o Prémio Camões 2016 para as Tecnologias da Língua Portuguesa.