São vários os conflitos em fundo a estas eleições.

Há o choque entre Madrid e Barcelona. Atingiu fases críticas na última década com pico em 2017/2018 com o procès independentista em fase explosiva e dura judicialização do conflito por parte do governo de Madrid e rompimento de diálogo com a Catalunha com alta febre separatista.

Há a áspera disputa fratricida entre independentistas. Não se vislumbram pontes para entendimento no essencial entre dois partidos com peso semelhante, a esquerda republicana ERC e o centro-direita do Junts do “exilado” Carles Puigdemont. Há na ERC disponibilidade para diálogo com o governo central, enquanto Junts insiste em ameaças com forma de chantagem.

Há a batalha pela liderança da esquerda na Catalunha. A postura dialogante do governo socialista em Madrid, liderado por Pedro Sánchez, colhe boas graças na Catalunha. As sondagens anunciam que o socialista catalão Salvador Illa, muito elogiado ministro da saúde no governo central no tempo da Covid, vai ser o mais votado, tornando-se muito provavelmente o chefe do próximo governo da Catalunha, em coligação com a ERC do atual líder da governação catalã, Pere Aragonés. É de admitir que esta mais provável coligação também precise de ir buscar o apoio da esquerda mais liberal do Comuns.

Há o confronto entre as direitas espanholistas (muito minoritárias na Catalunha) que recusam sequer falar de referendo sobre a independência. Em 2021, os ultras do Vox (11 deputados) suplantaram o PP (apenas 3). Desta vez, o PP deve passar para a frente do Vox, beneficiando do ocaso dos liberais Ciudadanos.

Há o pulso entre as direitas independentistas. A expectativa maior é sobre o apoio que pode ter a Aliança Catalana, capaz de retirar votos ao Junts de Puigdemont.

São vários os cenários possíveis como resultado destas eleições.

O mais provável é a coligação à esquerda (PSC+ERC+Comuns) encabeçada pelo socialista Salvador Illa. É o que mais sugerem as sondagens, que têm como cenário mais forte a não maioria independentista.

Mas esse cenário de maioria dos partidos independentistas não está totalmente excluído. A acontecer, os partidos rivais, ERC e Junts seriam levados para a negociação de uma aliança para governar. É improvável, tanto o acordo como esse resultado.

Não está afastado o risco de bloqueio, caso a atomização do parlamento catalão impeça qualquer maioria aritmética. Ficaria aberta a orta para repetição das eleições no próximo outono. É muito improvável que este bloqueio venha a acontecer.

Se as sondagens das últimas semanas não tiverem erro grosseiro, o socialista Salvador Illa vai chefiar o próximo governo da Catalunha, em aliança com ERC e provavelmente Comuns. A ser assim, outro ganhador é Pedro Sànchez, que vê premiada a política de entendimentos tão atacada pelas direitas.