"Na nossa praia temos dois escombros vazios, que desde o tempo colonial estão todos abandonados. Estou a falar de praticamente mais de 1.000 postos de trabalhos, no mínimo, que podíamos ter até hoje", lamenta, em declarações à Lusa, Ismael Suelmia, vice-presidente da Associação da Indústria Hoteleira e Similares da província de Gaza (Asinhos).

Para o dirigente, a província, e sobretudo Xai-Xai, continuam sem tirar partido da potencialidade turística, por comparação com a vizinha Inhambane, o principal destino turístico de Moçambique, alegando falta de promoção, atração de investimento e até de oferta hoteleira.

"Temos dois escombros que estão parados. E sim, nós temos um potencial em praias, mas não temos capacidade de absorção do próprio turista, então não há atração, não temos uma atração para o turista", reconhece.

A solução, defende, passa por incentivos fiscais aos empresários que se queiram instalar na província, e por exemplo recuperar estes antigos e históricos edifícios. É que só na praia principal da cidade, além do escombro que é hoje o Hotel Xai-Xai, devoluto apesar de ficar à entrada do areal, há outro do género, o Hotel Chongoene, no mesmo estado e também abandonado desde o fim do período colonial, a aguardar solução.

"Se houvesse incentivos da parte do Governo para atrair investidores para aquilo que são os nossos escombros, são mais de 40 e tal anos em que não há nada", aponta o dirigente da Asinhos, que congrega cerca de 150 empresários do ramo do turismo da província de Gaza, sul de Moçambique.

A falta de oferta de alojamento e de atividades são aspetos para as quais a associação reclama atenção: "Nós temos quase cinco ou seis 'lodjes' disponíveis [naquela praia], o que não é suficiente".

"Em relação ao turismo, realmente, nós estamos a caminhar, como dizia um velho amigo, como um camaleão doente. Estamos mesmo a ter vários problemas de desenvolvimento nessa área", lamenta, apontando ainda a falta de acessibilidades, tendo em conta os cerca de 200 quilómetros que separam a província da capital.

"Mas temos quase a estrada toda destruída e isso inviabiliza, de certa forma, a que os turistas venham para aqui", observa Ismael Suelmia, que defende igualmente a reativação do campismo que ali existe, junto à praia de Xai-Xai, para promover aquele nicho de turismo.

O responsável considera que se trata de "um turismo de pequena escala, de pequeno custo, mas é turismo".

"Nós temos uma das melhores praias em termos de segurança (...) É uma das vantagens que nós temos, ter uma praia para banhistas que é espetacular", sublinha.

Que o diga Ernesto Pita, gestor do "Reef Resort", naquela praia, onde emprega 75 trabalhadores com uma oferta de 20 casas, com capacidade máxima para mais de 150 pessoas, por estes dias com lotação "esgotada" e já recuperado dos efeitos da pandemia de covid-19, sobretudo com turistas da África do Sul, mas também do Botsuana, Tanzânia e europeus, além de moçambicanos.

Ainda assim queixa-se da falta de outras ofertas para os turistas que procuram as "praias virgens" de Xai-Xai.

"Precisamos de olhar mais para outras coisas que o turista precisa de fazer enquanto está aqui em Xai-Xai. Essa é a parte mais essencial. Neste momento estamos somente a olhar para o lado de alojamento e em que não é tudo. Precisamos de olhar para as atividades, Xai-Xai não tem atividades", aponta, queixando-se ainda da subida das taxas da pesca recreativa, das poucas ocupações que os turistas encontram ali, além da praia e da natureza.

"É um nicho que se perde", observa.

Poucas centenas de metros ao lado fica o Resort Go Wild, com oito casas, cinco apartamentos e também vista privilegiada para a praia, quase selvagem, protegida pelo verde da vegetação. É ali que trabalham 15 pessoas e também de casa cheia.

"Esta época de verão por acaso começámos bem, temos equipas de turistas espanholas que vêm, que fazem excursão, então param aqui para passar a noite", conta à Lusa Abraão Zandamela, gerente daquela unidade hoteleira.

Contudo, lamenta: "Não temos atividades. A nossa praia não tem atividades. Dizem que parece que Xai-Xai não está em Moçambique, Inhambane tem mais oportunidades".

A criação de "roteiros" para levar os turistas a conhecerem as tradições da província ou desenvolver pacotes para cativar os turistas nacionais são iniciativas que diz faltar, de forma a "usufruir" da "pérola" que é Xai-Xai.

"É tranquilo, tranquilo. Não temos criminalidade aqui (...) As pessoas também são acolhedoras. Só temos que chamar mais turistas e haver mais iniciativas, mais gente com bom coração para investir", remata.

*** Paulo Julião (texto), Estêvão Chavisso (vídeo) e Luísa Nhamtumbo (fotos), da agência Lusa ***

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