"Penso que a área do euro está muito perto duma recessão que, apesar de não ser muito marcada, criará uma situação de estagflação (inflação mais recessão) que é a situação mais difícil com que a política macroeconómica pode ser confrontada", afirmou em entrevista por escrito à agência Lusa, o antigo governador do Banco de Portugal (BdP) e ex-vice do Banco Central Europeu (BCE).

Vítor Constâncio recorda que "uma situação de estagflação nunca existiu desde a criação do euro", considerando que ela "porá o BCE em dificuldade".

O antigo vice-governador do BCE adverte que a eventualidade de uma estagflação na zona euro levanta desafios acrescidos para a política monetária, dado "o Tratado impor uma prioridade absoluta ao combate à inflação, ao contrário do que acontece nos EUA, onde o banco central tem um mandato duplo em relação à inflação e ao emprego".

Assinala ainda que a desaceleração nas maiores economias europeias tem vindo a acentuar-se, apontando que "no primeiro semestre, oito países tiveram crescimento negativo em relação a 2022 e nove, comparando com o primeiro trimestre".

Para Vítor Constâncio, tendo em vista os últimos dados macroeconómicos conhecidos da zona euro, o BCE deveria optar por uma pausa na subida das taxas de juro na reunião do Conselho de Governadores da próxima quinta-feira.

"Penso que não seria necessária nova subida, mas creio que a probabilidade de vir a acontecer é superior a 50%", disse.

De acordo com as intervenções públicas dos responsáveis do BCE e as atas da última reunião, a decisão da próxima reunião está dependente dos dados económicos, que permitam medir o pulso à economia e à redução da inflação.

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