Em Banguecoque, centenas de pessoas desfilaram em carros para manifestar a rejeição do bloqueio dos senadores, enquanto outras expressaram o descontentamento nas redes sociais, relata o jornal Bangkok Post.

Alguns senadores acusaram os apoiantes do partido Move Forward (Avançar) de lançarem uma "caça às bruxas", depois de o líder do partido, Pita Limjaroenrat, não ter conseguido chegar à chefia do Governo na passada quinta-feira devido à rejeição imposta pela maioria dos membros do Senado e Parlamento

A coligação liderada por Limjaroenrat, que inclui também o Pheu Thai, tem uma ampla maioria de 312 dos 500 deputados da Câmara dos Representantes, mas a eleição do primeiro-ministro envolve também 249 senadores (um demitiu-se na quarta-feira) nomeados pela antiga junta militar (2014-2019).

O candidato tem de obter uma maioria absoluta entre a soma das duas câmaras, mas Limjaroenrat só conseguiu obter 324 votos, menos 51 do que o número necessário para ser nomeado primeiro-ministro.

Limjaroenrat foi apoiado por apenas 13 senadores, enquanto 34 se abstiveram, 159 votaram contra e 43 estiveram ausentes.

O maior obstáculo é a promessa eleitoral do Avançar em alterar a lei de lesa-majestade, que prevê penas de prisão até 15 anos para quem criticar a família real.

Mais de metade dos senadores, na sua maioria militares e políticos de tendência conservadora, opõe-se veementemente à alteração.

O Senado da Tailândia foi criado e eleito inteiramente pela junta militar, que tomou o poder num golpe de Estado em 2014 e foi dissolvido após as eleições de 2019.

A atual Constituição, redigida pelos militares durante o regime ditatorial, estipula um mandato de cinco anos para os senadores, que terminam a legislatura em 2024.

Limjaroenrat indicou que vai voltar a apresentar a sua candidatura a 19 deste mês e que o seu partido vai também tentar abolir o artigo que dá aos senadores o poder de participar na eleição do primeiro-ministro.

No entanto, o candidato progressista deu a entender que passará o testemunho a outro dirigente da coligação se não conseguir ser eleito primeiro-ministro na votação da próxima quarta-feira no Parlamento.

O partido Avançar, com uma agenda reformista de longo prazo, tem um forte apoio entre os jovens eleitores e os manifestantes que saíram à rua em 2020 e 2021 para exigir mudanças radicais no país, incluindo a reforma da lei de lesa-majestade.

A segunda maior economia do Sudeste Asiático, mergulhada num ciclo de violência política há mais de 20 anos, está a viver uma nova onda de tensão entre as elites militares conservadoras no poder e as gerações mais jovens, desejosas de mudança.

Os eleitores tailandeses votaram a favor do programa do movimento progressista para virar a página de quase uma década de regime militar, em que as liberdades fundamentais foram reduzidas.

Mas o sistema fechado dos militares tende a diluir o âmbito da mudança prevista e mesmo a excluir do próximo governo o partido vencedor, considerado demasiado radical em questões ligadas à monarquia.

O projeto emblemático do Avançar para reformar a lei de lesa-majestade, uma das mais rigorosas do mundo, foi alvo de críticas por parte dos senadores, que também apontam o dedo aos problemas legais do deputado.

Limjaorenrat está a ser julgado em dois casos distintos, que ameaçam desqualificá-lo e, quarta-feira, o presidente da comissão eleitoral recomendou a suspensão das suas funções parlamentares devido às ações que detinha num canal de televisão na altura da campanha, em violação da lei, algo que o candidato rejeita.

Num outro caso, o Tribunal Constitucional declarou admissível a queixa de um advogado que acusava Limjaorenrat e o Avançar de pretenderem "derrubar" a monarquia.

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