"Condenar enérgica e veementemente o comportamento irresponsável, não profissional do professor Mário Fernandes [diretor geral do HAB] durante as suas declarações à comunicação social pública, uma vez que o colega [suspenso] não foi ouvido", disse hoje o presidente do SINMEA à Lusa.

Reagindo à morte de um cidadão de 25 anos à porta do HAB, na terça-feira, facto que deu origem à suspensão da equipa médica em serviço por alegada negligência, Adriano Manuel lamenta que o médico suspenso não tenha sido ouvido, no âmbito do processo.

O líder sindical salientou que foi criada uma comissão de inquérito para averiguar os acontecimentos e este órgão "ainda não chegou a qualquer conclusão" sobre o assunto: "Logo, não é justo que se condene em hasta pública um profissional sem ser ouvido".

"Quem deve ouvir o profissional? O colégio de especialidade bem como o Ordem dos Médicos de Angola, foi ouvido? Não", disse.

O presidente do sindicato disse que em conversa com o médico suspenso este garantiu que "não teve contacto com o doente em causa e que o mesmo doente nem sequer deve ter passado pela triagem".

"Não se deve condenar alguém sem ser ouvido, em sede de um inquérito, para que cheguemos a uma conclusão", insistiu.

A direção do HAB anunciou a suspensão da equipa médica, na sequência deste incidente, e participou a ocorrência, por suposta negligência da equipa médica em serviço, junto do Serviço de Investigação Criminal.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram o cadáver de um jovem no chão na parte exterior do HAB, localizado no Distrito Urbano do Rangel.

Segundo Adriano Manuel, alguns serviços do HAB, um dos hospitais de nível terciário da capital angolana, "estão encerrados" e o seu diretor geral ao "não assumir" o encerramento de serviços da unidade quer "demarcar-se" da sua responsabilidade enquanto gestor.

"Porquanto, não se deve e nunca se deveria encerrar nenhum serviço, ainda que para isso se criasse um hospital de campanha internamente para resolver os problemas relacionados à medicina", defendeu.

O presidente do SINMEA disse que o HAB foi encerrado temporariamente, ficando apenas em atividade os serviços de ortotraumatologia e cirurgia, observando que a sua localização geográfica deveria impedir a direção da unidade hospitalar de encerrar grande parte dos serviços.

"Realçar também que o HAB está localizado numa área em que, provavelmente, devemos ter cerca de 4 a 5 milhões de habitantes e, logo, não é justo que se encerrem os serviços", frisou.

O sindicalista e também médico pediatra responsabilizou igualmente o Ministério da Saúde pela morte do cidadão, pelo facto de a entidade ministerial "não criar condições humanas e meios médicos nos hospitais e centros de saúde da periferia".

O Ministério da Saúde "não deixa de ter culpa neste caso, porquanto devia criar condições tanto do ponto de vista de recursos humanos como de meios nos hospitais da periferia, nos centros de saúde para acudir às situações graves que eventualmente pudessem acontecer nestas localidades", apontou.

De acordo com Adriano Manuel, se o Ministério da Saúde tivesse criado as condições no sistema de saúde primário e secundário "de certeza que os doentes não chegariam com a gravidade com que este doente chegou ao HAB".

DYAS // VM

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