"O que eu quero é uma manifestação nacional, não é a guerra", disse o líder da Renamo, após a reunião extraordinária alargada da Comissão Política Nacional da Renamo, realizada esta tarde em Maputo, em que o partido decidiu não reconhecer os resultados das eleições autárquicas de 11 de outubro que estão a ser anunciados pelos órgãos eleitorais.

"É através das manifestações. Afinal de contas pensam que a única alternativa que a Renamo tem que usar é a arma", questionou o líder da Renamo, em resposta às perguntas dos jornalistas sobre o caráter dos protestos convocados.

"Nós temos que respeitar que o povo moçambicano está cansado das guerras", acrescentou.

Ainda assim, Momade avisou que sobre o desenrolar das manifestações que espera a partir de terça-feira, tudo "vai depender do comportamento do regime", insistindo que o partido "venceu" estas eleições, as primeiras depois de concluído, em junho, a total desmilitarização e desarmamento do partido, na sequência do acordo de paz.

O partido convocou "todos os moçambicanos" para uma manifestação geral "em repudio a qualquer manipulação de resultados, a partir do dia 17 de outubro", tendo esta sido uma das medidas saídas desta reunião da Comissão Política Nacional da Renamo.

Apela ainda à sociedade civil, confissões religiosas e comunidade internacional "para agir, corajosa e urgentemente de modo a travar esta manipulação de resultados eleitorais".

"Queremos que a comunidade internacional apareça a dizer algo sobre o comportamento do partido Frelimo. Não pode existir uma democracia para a Europa e outra para Moçambique", afirmou, garantindo ainda que a Renamo vai "interpor recursos junto das instituições competentes" contra os resultados anunciados.

"Demos evidências que nós ganhamos", afirmou o líder da Renamo, advertindo: "Se os tribunais não vão fazer o seu papel, não é por falta de reclamação".

Disse igualmente que a Renamo vai exigir à CNE "um esclarecimento público sobre os vários ilícitos cometidos perante o seu olhar impávido e sereno" e que pretendem "responsabilizar os órgãos eleitorais pela má gestão e condução do processo eleitoral", além de "requerer uma auditoria sobre a proveniência e a autoria dos boletins paralelos usados e vencimento das urnas".

A Ordem dos Advogados de Moçambique manifestou no sábado "profunda preocupação" face ao "elevado nível de violência" após a eleição autárquica de quarta-feira, que "revela um descrédito nas instituições que administram o processo eleitoral".

"Os níveis de violência, para além de poderem desacreditar qualquer resultado eleitoral, podem igualmente gerar suspeição relativa à integridade do próprio ato eleitoral como um todo e das instituições que o administram", refere um comunicado daquela Ordem, assinado pelo bastonário, Carlos Martins.

As comissões distritais e províncias de eleições divulgaram nos últimos dias resultados do apuramento intermédio da votação em pelo menos 46 municípios, sendo que a Frelimo, no poder no país, venceu em 45 - a generalidade fortemente contestadas pelos partidos da oposição e observadores da sociedade civil -, e o MDM, manteve a Beira, província de Sofala.

A Frelimo foi anunciada vencedora em Maputo, a capital, em Matola, a cidade mais populosa do país, mas também em Nampula, a 'capital' do norte, e em Quelimane, capital da província da Zambézia, estas duas lideradas até agora pela Renamo.

Nas eleições autárquicas de 2018, a Frelimo venceu em 44 das 53 autarquias - foram criadas mais 12 autarquias nestas eleições - e a oposição em apenas nove, casos da Renamo, em oito, e do MDM na Beira.

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