Numa conferência de imprensa hoje em Maputo, o porta-voz da Renamo disse que os episódios ocorreram na quarta-feira, quando alegadamente uma unidade da polícia invadiu as instalações do partido na cidade de Nampula, com o objetivo de resgatar um membro da corporação que foi identificado pela Renamo, à paisana, numa das marchas do partido naquela autarquia.

"Uma vez neutralizado e sem esclarecer as razões da sua infiltração, outros agentes invadiram as instalações da delegação política provincial com gás lacrimogéneo e disparos contra membros da Renamo, numa afronta ao princípio da proporcionalidade e das regras básicas de uma polícia que se pretende republicana e apartidária", declarou José Manteigas, acusando as autoridades de terem prendido "mais de duas centenas de simpatizantes do partido".

A Lusa tentou, sem sucessos, contactar o comando-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM).

Segundo o principal partido de oposição em Moçambique, as alegadas detenções arbitrárias de membros da Renamo também foram registadas na autarquia de Maganja da Costa, na província da Zambézia, centro de Moçambique.

"Agentes da PRM, mais uma vez, demonstraram o seu caráter cruel e déspota ao lançarem gás lacrimogéneo contra cidadãos indefesos que marchavam pacificamente naquela urbe, com o objetivo de impedir o exercício do direito à manifestação", acrescentou José Manteigas, que responsabilizou o Governo e o Presidente da República, Filipe Nyusi, pelos alegados crimes praticados pela polícia.

"Há ordens para molestar os cidadãos do Centro e Norte e isto vai ter o seu preço. A Frelimo [partido no poder] vai pagar por isso (...)Exortamos a todas as forças vivas a combater as tentativas de escravizar o povo moçambicano (...) A Renamo quer a reposição da verdade eleitoral", concluiu José Manteigas.

As sextas eleições autárquicas em Moçambique continuam a ser alvo de duras críticas vindas de diferentes partidos da oposição e da sociedade civil, que denunciam uma "megafraude" no escrutínio, com destaque para a falsificação de editais, com algumas decisões de tribunais distritais a reconhecerem irregularidades no processo.

O principal partido da oposição tem promovido marchas de contestação aos resultados das eleições de 11 de outubro, juntando milhares de pessoas em diferentes pontos do país para exigir a "reposição da verdade eleitoral" e já interpôs vários processos-crime, nomeadamente contra os juízes do Conselho Constitucional e agentes do processo eleitoral.

O Conselho Constitucional moçambicano proclamou em 24 de novembro a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) como vencedora das eleições autárquicas de 11 de outubro em 56 municípios, contra os anteriores 64 anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), com a Renamo a vencer quatro, e mandou repetir eleições em outras quatro.

Segundo a CNE, a repetição das eleições, marcada para domingo, vai custar 41 milhões de meticais (595 mil euros), decorrendo em 75 mesas de voto, das quais 18 de Nacala-Porto (província de Nampula), três de Milange e 13 de Gurúè (Zambézia) e na totalidade das 41 mesas de Marromeu (Sofala).

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