"A migração é incentivada [com] desinformação, há traficantes de seres humanos que se dedicam a isso e organizam caravanas para irem até aos Estados Unidos, muitas vezes sem informarem bem as pessoas", disse Andrés Manuel López Obrador, durante a sua conferência de imprensa diária.

"Mas temos de continuar a cuidar dos migrantes, evitando que corram perigo, evitando os riscos", acrescentou.

As declarações foram feitas numa altura em que avança para norte a maior caravana de migrantes deste ano, que partiu na véspera de Natal de Tapachula, na fronteira sul do México, com quase 10 mil pessoas, e já percorreu cerca de 350 quilómetros, até ao estado de Chiapas.

O avanço da caravana pressionou o Governo do México a abordar o grande aumento do fluxo migratório registado este mês numa reunião mantida na quarta-feira com uma delegação de alto nível dos Estados Unidos da América (EUA), liderada pelos secretários de Estado, Antony Blinken, e de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas.

Questionado por um jornalista, o Presidente mexicano rejeitou que a caravana de migrantes ainda mantenha o mesmo número de pessoas que tinha quando partiu, salientando que muitas já se dispersaram.

"No caso desta caravana [muitos] ficaram no sudeste do país, porque se fala em 8.000 [pessoas], mas no relatório de hoje, penso que já só são contadas 1.500, segundo me informaram há pouco", afirmou.

Em dezembro têm-se registado recordes históricos de pessoas que tentam entrar nos Estados Unidos através da fronteira com o México, e que pretendem juntar-se aos 2,2 milhões de migrantes contabilizados pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA entre janeiro e novembro.

Nas últimas semanas, cerca de 10 mil pessoas tentaram diariamente atravessar ilegalmente a fronteira sul dos Estados Unidos, quase o dobro do número registado antes da pandemia de covid-19.

Sobre a reunião com a delegação dos Estados Unidos, López Obrador afirmou que insistiu na necessidade de investir na cooperação para o desenvolvimento com os países da América Central e garantiu que a política do México é proteger os migrantes.

"Conversámos sobre a atenção que deve ser dada às causas que provocam a migração e o apoio aos países onde as pessoas abandonam, por necessidade, as suas cidades para procurar trabalho, e explicámos como o nosso país continua a ajudar", disse.

Na quarta-feira, os dois países garantiram que a reunião trouxe progressos para a crise migratória.

"Chegámos a acordos importantes para benefício dos nossos povos e das nossas nações. Hoje, mais do que nunca, a política de boa vizinhança é necessária", escreveu, na quarta-feira, o Presidente mexicano na rede social X (antigo Twitter), sem avançar pormenores.

O governante acrescentou que as discussões abrangeram "questões de cooperação económica, segurança e migração".

"Ficámos realmente impressionados com algumas das novas medidas que o México está a tomar e, nos últimos dias, assistimos a uma redução bastante significativa das travessias na fronteira", referiu um responsável do Governo norte-americano que seguia no avião de Blinken, na viagem de regresso a Washington, citado pela agência de notícias francesa AFP.

Anunciada abruptamente alguns dias antes, a rara viagem de Antony Blinken ao estrangeiro durante um período de férias surgiu numa altura em que os membros republicanos do Congresso exigem um acordo sobre imigração com a administração do Presidente, Joe Biden, em troca do apoio a um novo pacote de ajuda à Ucrânia.

Os EUA anunciaram na quarta-feira o desbloqueio de 250 milhões de dólares (cerca de 224 milhões de euros) em ajuda militar para Kiev, a última tranche disponível sem ser necessária uma votação no Congresso norte-americano.

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