José Maria Neves discordou do Governo e referiu, em comunicado, que o sentido de voto de Cabo Verde "jamais poderia ser o da abstenção", tendo em conta "a magnitude do que está a acontecer no Médio Oriente, com uma escalada de violência que se tem traduzido num cenário de absoluta catástrofe humanitária, ceifando, já, mais de 18 mil vidas humanas, sendo 70% crianças".

O chefe de Estado disse que, "tal como acontecera na votação da resolução que visava a abertura de um corredor humanitário em Gaza, também agora", na votação por um cessar-fogo, "o voto abstenção por Cabo Verde não tem, por si, justificação suficiente", sublinhando que não se reconhece nas votações.

José Maria Neves referiu que não encontra justificação, nem mesmo com "serena ponderação de todos os fatores, a começar pelos parâmetros constitucionais e a credibilidade externa de Cabo Verde".

O chefe de Estado classificou o conflito como um "total descalabro dos valores subjacentes à Declaração Universal dos Direitos Humanos e ao Direito Internacional Humanitário", que tem, justificadamente, "apoquentado a consciência da comunidade internacional e a da sociedade cabo-verdiana em particular".

"Trata-se de uma catástrofe em toda a extensão", referiu.

O Presidente cabo-verdiano voltou a reclamar por articulação política por parte do Governo, em nome do "dever de lealdade institucional", algo que tem reclamado com frequência.

A declaração surge poucas horas depois de ter publicado uma mensagem na Internet com igual apelo a propósito de um encontro do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sobre o qual, afirmou, gostava de ter discutido ideias, previamente, com o Governo.

O Governo cabo-verdiano justificou hoje a abstenção de terça-feira com uma questão de coerência, pelo facto de a resolução (tal como a de outubro) não considerar "disposições relativas à condenação aos atos terroristas" do Hamas.

O projeto de resolução sobre Gaza, apresentado à Assembleia-Geral das Nações Unidas pelo Egito, e copatrocinado por cerca de 80 países, incluindo Portugal, obteve na terça-feira 153 votos a favor, 10 contra e 23 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU.

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