A marcha, a maior dos últimos anos, era liderada pelos pais dos estudantes que, num comício junto ao Palácio Nacional e residência do Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, lembraram que a prioridade é saber o paradeiro dos filhos e exigiram novamente que as investigações continuem de forma rigorosa e séria e que o exército divulgue as informações em falta.

Em 26 de setembro de 2014, o grupo de 43 estudantes foi atacado pela polícia municipal na cidade meridional de Iguala, Guerrero, e entregue a um grupo de traficantes local que aparentemente os matou e queimou os corpos. Desde o ataque, apenas três restos mortais foram identificados.

Depois de um primeiro encobrimento, uma comissão governamental para apurar a verdade concluiu, no ano passado, que as autoridades locais e federais conspiraram com os criminosos para assassinar os estudantes.

Os pais acusaram Obrador e o exército de esconderem informações sobre o caso, numa denúncia já feita, em julho, pelo Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes.

"Se consideram que há informações que estamos a esconder, eu digo-lhes: não é verdade", afirmou o Presidente mexicano, na habitual conferência de imprensa de terça-feira.

López Obrador comprometeu-se a resolver o caso e, nos últimos anos, assistiu-se a uma lenta divulgação de documentos relativos ao rapto, e a uma série de detenções. No entanto, ativistas e organizações de direitos humanos afirmam que o Governo não fez o suficiente para investigar exatamente o que aconteceu e punir os culpados.

As tensões aumentaram poucas horas antes da marcha, quando famílias e advogados rejeitaram uma série de documentos que o Governo mexicano se ofereceu para divulgar, alegando que os ficheiros militares específicos que pediram há meses não estavam incluídos. O exército disse não ter esses ficheiros.

O mandato de seis anos de López Obrador termina em setembro de 2024, o que pode significar recomeçar a investigação do zero.

Nos últimos anos, foram presos vários oficiais do governo e do exército da época, mas não foram encontrados mais restos mortais.

Enquanto as famílias marchavam pela cidade, passavam por barricadas erguidas para proteger monumentos. A marcha foi pacífica, apesar de incidentes isolados quando manifestantes atacaram e danificaram algumas lojas, de acordo com a imprensa local.

Numa rotunda, os ativistas colaram cartazes em memória não só dos 43 estudantes, mas de todos os desaparecidos do México.

O caso Ayotzinapa adquiriu um significado simbólico no país, onde mais de 110 mil pessoas estão dadas como desaparecidas.

EJ // VQ

Lusa/Fim