Uma maré de amarelo, a cor da Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC, na sigla em inglês), preencheu um campo poeirento no centro da cidade, onde se pôde ver a imponente torre do partido no poder (Zanu-PF), com o rosto do Presidente cessante, Emmerson Mnangagwa, 80 anos, apelidado de Crocodilo pela sua crueldade, entronizado acima dela.

"Zimbabué! O nosso tempo chegou!", gritou Nelson Chamisa, líder do CCC e principal rival de Mnangagwa, a partir de um pódio, enquanto se dirigia para a multidão.

"Vamos ganhar esta eleição", gritou com a voz rouca.

Apesar da "centena de comícios que foram proibidos, Deus diz que este é o momento de eu me tornar Presidente", acrescentou o advogado e pastor de 45 anos, em mangas de camisa.

O Zanu-PF detém o poder desde a independência do país, em 1980.

Em 2017, Mnangagwa, o antigo braço direito do autoritário Robert Mugabe, ascendeu ao poder num golpe de Estado.

No ano seguinte, ganhou as eleições por pouco, contra Nelson Chamisa, que contestou então o resultado.

"Há 43 anos que temos o mesmo governo e nada mudou", disse à agência France-Presse David, 25 anos, recém-licenciado em Sociologia, que opta por não dizer o apelido, num país onde a oposição se queixa regularmente de intimidação por parte dos militantes do partido no poder.

"Chamisa é o homem de que precisamos para responder às expectativas dos jovens. Queremos emprego e melhores condições de vida", insistiu.

Os ativistas do "Triplo C", como é conhecido na rua, cantaram em coro uma canção de campanha: "O Zanu-PF está acabado, votem em Chamisa e a pobreza desaparecerá".

"Os negócios vão mal no Zimbabué", considerou Kudzanai Labana, de 35 anos, referindo-se à elevada taxa de desemprego - até 70% no setor formal, segundo os economistas.

"Mnangagwa é um ditador e está a matar-nos a todos", frisou.

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