É um cenário natural típico dos cartazes de agências de viagens e onde a calma reina num dos últimos fins-de-semana de agosto: alguns turistas, algumas esplanadas, tudo sereno, "à espera de um clique", diz o presidente da Câmara, Miguel Rosa, à beira da principal avenida de Porto Inglês, sede do município.

As festas do município estão em preparação e incluem animação anual, no início de setembro, em honra de Nossa Senhora da Luz, à qual se dirigem muitas das preces sobre o futuro da ilha.

"Precisamos de um clique, de algo que depois acaba por ser um elemento indutor e esse clique vai acontecer a todo o momento", diz o autarca, em entrevista à Lusa, acreditando que esse arranque virá com um dos projetos turísticos em negociação para a ilha.

Em 2022, o Governo aprovou a Zona Económica Especial da Ilha do Maio (ZEEIM) para apoiar o projeto Little África Maio, o maior empreendimento turístico previsto para Cabo Verde, avaliado em 500 milhões de euros e capaz de gerar 4.000 postos de trabalho, pelo menos segundo os planos no papel.

Na prática, desde 2020 que se aguarda por trabalhos no terreno, mas a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia não têm ajudado os investidores de Espanha e outros países africanos a traçar planos, justifica Miguel Rosa.

"Os contactos mantêm-se", refere à Lusa, a par de outras intenções de investimento.

Há interesse de um grupo francês ligado ao turismo sénior em estabelecer um investimento com 80 a 100 quartos e um grupo da República Checa "já adquiriu uma área interessante na ilha do Maio" para investimentos turísticos.

"Termos turismo internacional, num futuro próximo, é um imperativo", refere.

"Falta dinâmica económica" para uma reação em cadeia que permita criar emprego, ter crescimento da população, mais barcos de ligação à Praia e um aeroporto mais comprido (para receber voos internacionais).

A fixação da população é uma prioridade para Miguel Rosa, uma vez que em 2010 estava perto dos 6.800 residentes e, atualmente, não vai além dos 6.400.

A tendência é de saída, com muitos jovens virados para a emigração, em especial "iludidos com Portugal", diz Nanda Santoro, 59 anos, italiana que há 10 anos se fixou na ilha com o marido, Pompeu, donos de um bar e restaurante.

"Há muitos jovens do Maio que emigram para Portugal, mas depois encontram dificuldades", refere, sendo que ela própria tem uma filha a viver em Portugal.

Para Nanda e Pompeu, a ilha do Maio "é um paraíso terrestre, é uma ótima mistura de tranquilidade e natureza, um lugar perfeito para todas as pessoas que não gostam mais do 'stress' da vida na Europa".

Então porque é que não há mais gente no Maio? "Porque as pessoas ficam nos lugares da moda, como a ilha do Sal", e, por um lado, isso é bom: "Esta ilha não pode ser estragada com turismo de massas", sublinha.

Uma das brochuras de apresentação da ilha indica que "o município do Maio aposta na afirmação da ilha como destino turístico sustentável e solidário", mas, para já, a questão nem se coloca: a prioridade é mesmo inverter a saída de pessoas.

"Precisamos que a população duplique e que haja mais visitantes e isso só é possível com investimentos estruturantes", refere o autarca Miguel Rosa.

Ericsson Frederico, motorista na ilha, dá uma receita simples: "são precisos mais hotéis e mais fluxo marítimo. Ainda vêm poucas pessoas à ilha", diz, contando que há dias em que nem tem trabalho.

"Desta maneira, o meu projeto é sair daqui", conclui.

"Se o barco não vem numa determinada altura, temos falta de produtos de comida e bebida", conta Janicks Batista, residente no Maio, que pede mais ligações marítimas.

Miguel Rosa diz que "a ilha está preparada, tem condições", apontando para o trabalho de requalificação urbana, rede viária em todo o território (a ilha tem 270 quilómetros quadrados), o renovado porto marítimo e os serviços públicos de saúde e educação.

Os contactos continuam, em busca dos investimentos estruturantes.

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