"É assim que funciona a máquina de promoção de mentiras da ditadura: a mentira póstuma para branquear a sua propaganda e perseguir física e moralmente a oposição venezuelana", escreveu na rede social X (antigo Twitter).

Foi assim que Juan Guaidó, a residir nos Estados Unidos, reagiu à decisão do Ministério Público da Venezuela de emitir um mandado de captura internacional contra si, pelos crimes de traição à pátria, usurpação de funções, aproveitamento ou desvio de dinheiro, títulos e bens públicos, branqueamento de capitais e associação criminosa.

Por outro lado, num vídeo divulgado na rede social Instagram, Guaidó questiona por que razão "só agora" é emitido um mandado de detenção contra si e desafia o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a apresentar-se no Tribunal Penal Internacional, em Haia, para determinar quem tem contas pendentes com a justiça internacional.

"Amanhã [hoje] daremos uma resposta formal, inclusive à solicitação de alerta vermelho da Interpol contra mim, (...) Apresentemo-nos amanhã em qualquer procuradoria deste país - como sabem, estou nos Estados Unidos - ou, se preferires, noutra jurisdição, em Haia", disse o opositor, dirigindo-se a Maduro.

Guaidó começou por explicar que está "no exílio" devido "à perseguição política da ditadura de Maduro, que foi denunciada ao Tribunal Penal Internacional" e à qual a Missão de Determinação dos Factos da ONU, que observa os Direitos Humanos, ratificou recentemente "como uma perseguição coletiva, não só da sociedade civil, mas também das organizações não-governamentais e dos partidos políticos".

"No meu caso, como presidente do Parlamento, entre 2019 a 05 de janeiro deste ano, como presidente em exercício", explicou.

"E a pergunta é: Porquê neste momento? Porque é que a cobardia da ditadura não o fez antes? (...) Para continuar a tentar distorcer o que acontece no país" disse Guaidó, explicando que faltam 17 dias para as primárias dos partidos da oposição, em que será eleito um candidato único às presidenciais de 2024.

"Eu não permiti que me sequestrasses, não permitirei que me tires a voz e continuarei a denunciar-te em todos os lugares onde for possível, como um criminoso", acrescentou.

"Não há, portanto, qualquer possibilidade de meias medidas neste momento, a apenas 17 dias do fim do prazo, sabendo que não será efetivo qualquer mandado de captura contra mim. Não o fizeram [emissão do mandado] durante quatro anos por cobardia, mas fizeram-no contra a minha família, equipa de trabalho, contra o nosso partido político da oposição, numa tentativa de cercar e assassinar moral e fisicamente a oposição na Venezuela", disse.

O Ministério Público da Venezuela emitiu, na quinta-feira, um mandado de captura internacional contra Juan Guaidó.

Guaidó é acusado de traição à pátria, usurpação de funções, aproveitamento ou desvio de dinheiro, títulos e bens públicos, branqueamento de capitais e associação criminosa, disse o Procurador-Geral da Venezuela, Tarek William Saab, em conferência de imprensa, na sede do Ministério Público (MP), em Caracas.

Citando documentos do tribunal de Delaware, nos EUA, Saab explicou que Guaidó usou recursos da petrolífera estatal Petróleos da Venezuela SA (Pdvsa) em proveito próprio e "obrigou" uma filial da empresa a aceitar termos de refinanciamento que causaram "perdas à nação de 19 mil milhões de dólares" (cerca de 18,03 mil milhões de euros), o que "resultou na perda quase definitiva da Citgo", empresa petrolífera venezuelana nos EUA.

Em janeiro de 2019, o então presidente do parlamento, Juan Guaidó jurou publicamente assumir as funções de presidente interino da Venezuela, até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um governo de transição e eleições livres no país.

Guaidó foi reconhecido como presidente interino da Venezuela pelos Estados Unidos e recebeu o apoio de parte da comunidade internacional, de quase 60 países, entre eles Portugal.

O governo interino foi dissolvido em janeiro, por decisão da maioria dos partidos da oposição, que o apoiavam.

O político abandonou a Venezuela em abril de 2023, para a Colômbia, de onde foi expulso, acabando por ir para os Estados Unidos.

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