"A Igreja tem de fazer um esforço diário de continuar a ser exemplar naquilo que é preciso fazer e que é urgente fazer", afirmou Américo Aguiar aos jornalistas, na Cidade do Vaticano, onde no sábado é investido formalmente como cardeal.

O futuro bispo da Diocese de Setúbal disse que o caminho feito neste âmbito "é importante" e que "o sentir da Igreja portuguesa na sociedade portuguesa em 2019 e hoje" é "totalmente diferente".

"E é diferente para melhor, naquilo que é o entendimento do grave problema e naquilo que são os procedimentos que cada um tomou", declarou.

Neste âmbito, exemplificou que foi melhorada a "articulação das reações das 21 dioceses", destacando que hoje, no país, "o lugar das vítimas é o lugar certo, de preocupação, de prioridade".

"Acho que todos estamos convencidos de que a dor não prescreve, que estas pessoas são heróis, porque tiveram a coragem de abrir o coração, de partilhar momentos negros da sua vida e nós só podemos abraçar, acolher, abraçar e acompanhar, sem nos dispensarmos de nada que esteja ao nosso alcance e dependa de nós para ajudar no caminho que é necessário fazer", apontou ainda o prelado, até agora bispo auxiliar de Lisboa.

Américo Aguiar referiu que, quanto ao passado, existe o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa e, no presente, as comissões diocesanas de Proteção de Menores melhoraram a sua constituição e procedimentos e está no terreno o grupo Vita, para acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis.

"Agora cada uma das dioceses tem de fazer o melhor, cada vez melhor" para que a Igreja seja exemplar "no tratamento e no acolhimento dos casos", destacou, defendendo, contudo, que é necessário ter "este sentimento, transversalmente, na sociedade portuguesa", que não pode baixar os braços.

O futuro cardeal declarou-se convencido de que "na educação, nas empresas, em todas as áreas, todos começaram a fazer alguma coisa".

"Mas nós não temos essa perceção do que é que está a acontecer, seja na prevenção, seja no acolhimento das situações", acrescentou.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão, cujos dados foram divulgados em fevereiro.

No dia 26 de abril de 2023 foi a apresentação pública do Grupo Vita criado pela Igreja Católica para acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis. É um grupo que funciona em articulação com as comissões diocesanas de Proteção de Menores.

A criação desse grupo foi uma decisão da Conferência Episcopal Portuguesa tomada após a publicação, em fevereiro do relatório da Comissão Independente. Esta comissão Independente foi também uma iniciativa da Igreja Católica.

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