"A atuação policial conheceu outras dinâmicas com o encerramento das mesas [de voto] e início da contagem. Ao cair da noite, a PRM [Polícia da República de Moçambique] disparou para dispersar pessoas dos postos de votação", referiu o Consórcio Eleitoral Mais Integridade, que observa as eleições em 72 das 75 mesas de voto.

Segundo aquele consórcio, os disparos foram efetuados no município de Gurué, na Zambézia, centro de Moçambique, o mesmo local em que houve disparos na sequência de alguma agitação social pouco depois do início da votação, levando ao reforço do contingente policial.

Após o fecho das urnas, às 18:00 locais (16:00 em Lisboa), iniciou-se o processo da contagem de votos, num ato eleitoral para o qual foram chamados mais de 53 mil eleitores de quatro municípios em que as eleições não foram validadas pelo Conselho Constitucional (CC) moçambicano, devido a irregularidades.

Em Marromeu, na província de Sofala, também na zona centro, a polícia moçambicana deteve dois delegados de mesa da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), na sequência de discussões por suposta invalidação de boletins de voto dos partidos, observou a agência Lusa.

Em Nacala-Porto, na província de Nampula, norte de Moçambique, a repetição das eleições foi tranquila e pacífica, relatam órgãos de comunicação social locais.

Na abertura das mesas de voto, os observadores das eleições denunciaram um ambiente de tensão, bem como "várias irregularidades, ilícitos, violência antes e depois da abertura da votação".

O comandante-geral da polícia moçambicana, Bernardino Rafael, apelou para a calma na repetição das eleições autárquicas de hoje, alertando para o oportunismo e garantindo que será assegurada a ordem pública.

Um total de 53.270 eleitores foram chamados hoje a repetir a votação em 75 mesas para a escolha de novos autarcas.

A repetição da votação de 11 de outubro decorre em 18 mesas de Nacala-Porto (província de Nampula), três de Milange e 13 de Gurúè (Zambézia) e na totalidade das 41 mesas de Marromeu (Sofala).

Segundo a Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, a repetição das eleições autárquicas está orçada em 41 milhões de meticais (595 mil euros), num processo que conta com 525 membros de mesas de assembleias de voto.

Na quarta-feira, a comissão eleitoral avançou que os membros das mesas de votação que se envolveram em ilícitos nas eleições de 11 de outubro vão ser afastados do novo escrutínio.

As eleições de outubro foram fortemente contestadas pela oposição e sociedade civil, que denunciaram uma alegada "megafraude".

A Renamo, maior partido da oposição, avançou com um recurso a pedir a suspensão da repetição desta eleição naqueles municípios, mas sem efeito.

A legislação em vigor estabelece que, quando é declarada nula a eleição de uma ou mais mesas de assembleia de voto, "os atos eleitorais correspondentes são repetidos até ao segundo domingo posterior à decisão do Conselho Constitucional".

O CC moçambicano proclamou, no dia 24 de novembro, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) como vencedora das eleições autárquicas de 11 de outubro em 56 municípios, contra os anteriores 64 anunciados pela CNE, com a Renamo a vencer quatro, e mandou repetir eleições em outros quatro.

Segundo o acórdão, aprovado por unanimidade, lido pela presidente do CC, a juíza conselheira Lúcia Ribeiro, a Frelimo manteve a vitória nas duas principais cidades do país, Maputo e Matola, em que a Renamo reivindicava ser vencedora, apesar de cortar em cerca 60 mil votos o total atribuído ao partido no poder.

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