O Supremo Tribunal de Hong Kong aprovou o plano de reestruturação de dívida no valor de 10 mil milhões de dólares (9,5 mil milhões de euros) na quinta-feira, abrindo caminho para os credores recuperarem o seu dinheiro após a Sunac ter falhado no pagamento de vários títulos.

A Sunac tinha pedido em setembro a proteção de bancarrota, ao abrigo do Capítulo 15 do Código de Bancarrotas dos EUA, em Nova Iorque, e tornou-se agora a primeira construtora chinesa a conseguir luz verde da justiça para a restruturação da dívida.

Os credores, que detêm 98,3% do valor total dos títulos da Sunac, tinham aprovado em setembro o plano de reestruturação da dívida offshore da construtora, recebendo em troca obrigações convertíveis em ações, assim como novas notas de dívida a dois e nove anos.

O setor imobiliário na China registou um crescimento meteórico nas últimas décadas, num país onde a venda de imóveis em planta permite financiar outros projetos. No ano fiscal de 2021, a Sunac era a terceira maior construtora chinesa neste tipo de vendas.

Em 2020, a situação financeira de muitas construtoras chinesas deteriorou-se, depois de os reguladores chineses terem exigido às empresas um teto de 70% na relação entre passivo e ativos e um limite de 100% da dívida líquida sobre o património, suscitando uma crise de liquidez no setor, agravada pelas medidas de combate à pandemia da covid-19.

Esta crise tem fortes implicações para a classe média do país. Face a um mercado de capitais exíguo, o setor concentra uma enorme parcela da riqueza das famílias chinesas, cerca de 70%, de acordo com diferentes estimativas.

A crise afetou nos últimos meses outros pesos pesados do setor, incluindo a Country Garden, até há pouco vista como uma empresa financeiramente sólida.

Mas o caso mais emblemático é o colapso da Evergrande, cujo passivo ascende a 328 mil milhões de dólares (307 mil milhões de euros).

No final de setembro, a imprensa noticiou que o presidente da empresa, o bilionário Xu Jiayin, se encontrava em prisão domiciliária.

A Evergrande admitiu, entretanto, que Xu estava "sujeito a medidas coercivas devido a suspeitas de crime ou delito em violação da lei", sem avançar mais detalhes sobre a natureza das alegadas infrações.

Em agosto, a Evergrande pediu também falência nos Estados Unidos para proteger os seus ativos dos credores enquanto continua a negociar uma reestruturação da dívida.

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