"São contratos de prestação de serviços: os trabalhadores podem ser 'despedidos' a qualquer momento e isso é uma preocupação, ver como é que vai terminar", referiu o presidente do Sindicato da Indústria Geral, Alimentação, Construção Civil e Serviços (Siacsa), Gilberto Lima.

Os 200 trabalhadores que vão ser dispensados já foram informados, acrescentou.

Segundo o dirigente sindical, a Frescomar avançou para a dispensa de pessoal por falta de matéria-prima que era fornecida pela empresa espanhola Atunlo, que também tem uma fábrica em São Vicente, igualmente em dificuldades, acrescentou.

As duas empresas já suprimiram, nos últimos anos, cerca de 1.000 postos de trabalho por falta de matéria-prima e por razões ligadas a absentismo, segundo a mesma fonte.

Outros 165 trabalhadores estão em casa, "esperando por uma possibilidade da continuidade do trabalho, mas tudo depende do mercado e da matéria-prima: se não houver, não há como lhes dar trabalho e sustentá-los", referiu.

Segundo disse, a Frescomar só tem matéria-prima para trabalhar mais três semanas e depois reina a incerteza, segundo comunicou a direção da empresa aos trabalhadores.

O Siacsa convocou para sexta-feira com uma concentração de trabalhadores da Frescomar, no Mindelo, São Vicente, visando chamar a atenção do Governo para os problemas da indústria pesqueira.

"Essa manifestação não é direcionada contra as empresas", mas sim para questionar "a política de emprego e a forma de sobrevivência dessas pessoas, que vão perder o emprego", concluiu.

A Lusa tentou obter esclarecimentos por parte da Frescomar e também da Atunlo, mas sem resultados.

A Frescomar é uma sociedade anónima cabo-verdiana e espanhola que se dedica à transformação de pescado e sua comercialização, tendo a Europa como principal mercado.

O grupo conserveiro Atunlo, de origem galega, anunciou em meados de dezembro o início de um processo de despedimento de cerca de 80 pessoas devido ao encerramento de uma fábrica em Santoña, Cantabria, por "causas produtivas e económicas", segundo a agência EFE.

No entanto, de acordo com a confederação sindical espanhola (Confederación Sindical de Comisiones Obrerasa, CCOO), a medida esconde uma reconversão cada vez mais comum no setor das conservas, que "opta por comprar produtos fabricados noutros países e depois comercializá-los".

"Estão a destruir a indústria conserveira e milhares de empregos num setor de atividade que é muito artesanal e sinónimo de qualidade. Tenho a certeza que essa empresa vai ressurgir daqui a algum tempo, mas, claro, os trabalhadores já estarão na rua", disse Alejandro Lirón, representante da CCOO, citado pela EFE.

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