"Tínhamos a consciência de que conseguiríamos aquilo que conseguimos, que praticamente toda a gente aderisse", afirmou, lembrando que "teoricamente" o primeiro inimigo dos capitães no dia 25 de Abril de 1974 eram as Forças Armadas. "Simplesmente, nós tínhamos a consciência de que conseguíamos dominar as Forças Armadas todas", assumiu, durante uma entrevista realizada na Associação 25 de Abril, a escassas dezenas de metros do Largo do Carmo, palco da rendição do regime, em Lisboa.

Para Vasco Lourenço, a grande virtude da revolução de Abril foi que, contrariamente a outras tentativas, naquele dia as unidades saíram todas ao tempo para concretizar o golpe de Estado.

"As unidades saem todas para cumprirem os seus objetivos, que estão determinados na ordem de operações. Não olham para o lado à espera que o vizinho do lado saia para eles saírem a seguir", sublinhou.

"Quando o Salgueiro Maia chega a Lisboa [vindo de Santarém], entre as 05:30 e as 05:45, os objetivos que estão na ordem de operações do MFA (Movimento das Forças Armadas) estão todos ocupados; está ocupada a Emissora Nacional, a RTP, o quartel-general, o Rádio Clube Português, o aeroporto", destacou Vasco Lourenço, especificando que as unidades mais próximas chegaram primeiro à posição determinada.

"Depois, o Salgueiro Maia acaba por estar no lugar certo, no palco principal, acaba por ter um desempenho fundamental, mas o 25 de Abril não se reduz ao Salgueiro Maia, nem se reduz à Escola Prática de Cavalaria. Em todo o país, ao mesmo tempo, em todo o lado, as unidades saíram e cumpriram o que estava previsto", contou Vasco Lourenço.

A camaradagem entre os militares foi outro ponto a favor do golpe na hora do confronto com as forças enviadas pelo regime para travar a sublevação, segundo Vasco Lourenço: "O David e Silva vem com uma força do lado de Santa Apolónia, quando chega já o Salgueiro Maia está a ocupar o Terreiro do Paço. Ele é mandado para ocupar o Terreiro do Paço e para evitar que o Salgueiro Maia ou o MFA ocupasse. Tinha sido aluno do Salgueiro Maia".

Salgueiro Maia questionou o oficial sobre o que estava ali a fazer e face à resposta, instou-o a passar para o lado da revolução. "E ele passou", atestou Vasco Lourenço. "Há esta ligação também entre nós que funcionou bastante bem", reconheceu.

No dia em que se cumpriu o plano do golpe preparado durante meses em várias reuniões clandestinas, impulsionado com o propósito de encontrar uma solução política para a guerra colonial (1961-1974), Vasco Lourenço encontrava-se nos Açores, para onde tinha sido "chutado" em março, refere.

"Sou suspeito, porque acabei por não estar a comandar as operações como teria comandado se estivesse cá no 25 de Abril, fui substituído pelo Otelo [Saraiva de Carvalho]. Costumo dizer que, com o Otelo, correu bem, comigo falta fazer a prova", sorriu.

Otelo, admitiu, acabou por fazer uma ordem de operações e por conduzir as ações "de uma maneira magnífica" e o 25 de Abril "resultou plenamente", concluiu Vasco Lourenço, 81 anos, presidente da Associação 25 de Abril, que continua a promover a história e os ideais da revolução, em regime pro bono, enquanto vai escrevendo as memórias, que já somam 800 páginas.

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Lusa7fim