"O grande investimento que estamos a fazer, o maior investimento da nossa vida nesta indústria até final da década são 600 milhões de euros em quatro áreas distintas mas complementares", disse o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), Paulo Gonçalves.

O porta-voz da associação falava com jornalistas em Madrid, onde hoje a APICCAPS fez uma apresentação da indústria portuguesa do calçado à imprensa espanhola.

"Não estamos particularmente preocupados em aumentar a produção, pelo contrário, nós produzimos anualmente, grosso modo, 80 milhões de pares de sapatos e estamos relativamente confortáveis com esses números. Aquilo que nós queremos fazer é otimizar processos, valorizar os nossos produtos", afirmou.

Os 600 milhões de euros previstos de investimento até 2030 incluem os 140 milhões já conhecidos no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR, de fundos europeus), a serem investidos até 2025 nas áreas da automação e da sustentabilidade. O investimento restante envolverá potencialmente também fundos públicos (europeus e nacionais) e da própria indústria, segundo Paulo Gonçalves.

Um das vertentes centrais é "o compromisso verde", disse o porta-voz da APICCAPS, associação que assinou no início deste ano um protocolo com cerca de 150 empresas nas quais estão a ser feitas auditorias com o objetivo de melhorar a eficiência energética, o uso de materiais ou o 'eco design'.

"Estamos a fazer estas auditorias às empresas para que efetivamente possamos, em primeira circunstância, alterar e otimizar os processos. Depois, os novos produtos, a nova geração de produtos, vem de seguida", afirmou Paulo Gonçalves, que disse que há 100 parceiros, incluindo 14 universidades, a trabalhar com a indústria para a colocar "na linha da frente".

A indústria portuguesa de calçado está a criar "uma nova geração de produtos" com, por exemplo, materiais biodegradáveis (como cascas de fruta), materiais naturais (como cortiça e madeira) ou materiais reciclados (plástico e calçado usado), além de estar a trabalhar no desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas com a principal matéria-prima atual, o couro.

O couro é "um produto duradouro" e um desperdício da indústria alimentar que é usado no fabrico do calçado, contribuindo assim também "para o bem-estar do planeta", defendeu Paulo Gonçalves.

Segundo a APICCAPS, está ser desenvolvido em Portugal "um conjunto de novas soluções que vão ao encontro daquilo que são as grandes tendências internacionais".

"Todos os anos são produzidos 24 mil milhões de pares de sapatos, cerca de 90% são feitos na Ásia, o que equivale a dizer que cada nove em dez pessoas usam sapatos asiáticos. Nós não consideramos que seja sustentável, pelo contrário, entendemos que existe espaço no mercado para um pequeno 'player' como Portugal", disse Paulo Gonçalves.

As exportações portuguesas de calçado e artigos de pele aumentaram 22,2% no ano passado em relação a 2021, para o novo máximo histórico de 2.347 milhões de euros, mas o setor estima um recuo de 5% em 2023 devido ao abrandamento económico.

"Aquilo que entendemos fazer é estar na linha da frente, desenvolver uma nova geração de produtos", disse Paulo Gonçalves.

"Estamos aqui para durar, independentemente dos ciclos conjunturais. [...] Acreditamos tanto no futuro da nossa indústria que até final da década estamos a investir 600 milhões de euros de euros, definimos 24 medidas prioritárias, temos 113 ações a desenvolver no terreno. Entendemos que Portugal pode ser uma grande referência internacional ao nível de desenvolvimento de uma indústria sustentável, de uma indústria de futuro", acrescentou.

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