"Sobre a política monetária, é claro que a decisão será tomada pelo BCE. O que podemos discutir são as expectativas do mercado e essas expectativas revelam que o pico das taxas de juro já foi atingido, mas a duração deste nível que foi atingido e a possível inversão deste pico será decidida pelo banco com base em dados e depende da evolução da inflação", declarou o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni.

Falando em entrevista à agência Lusa e outros meios europeus em Bruxelas, no dia em que o executivo comunitário apresentou as previsões económicas de outono, o responsável contextualizou que "os dados dos Estados Unidos confirmam que, de facto, há uma trajetória de declínio da inflação".

Porém, "há um ponto de interrogação, relacionado com a situação terrível em Israel e Gaza nos preços da energia", destacou.

"Penso que todos temos consciência de que existe um risco de escalada deste conflito. Não quero subestimar o quão trágico o conflito já é na dimensão humanitária, mas do ponto de vista económico, um conflito mais abrangente pode afetar os preços da energia e, de momento, não vemos esses movimentos, nem no gás, nem no petróleo", elencou Paolo Gentiloni.

De acordo com o comissário europeu, se isso acontecer, põe em causa "toda a perspetiva que temos de queda da inflação" agora prevista.

Ainda assim, Paolo Gentiloni garantiu que a União Europeia "está, do ponto de vista do aprovisionamento energético, muito mais forte do que no ano passado", quando por esta altura havia receios de interrupções no abastecimento russo de gás no inverno e, por isso, se optou por metas de redução do consumo energético e de armazenamento ao nível comunitário.

Nas previsões hoje divulgadas, a Comissão Europeia admite que o conflito no Médio Oriente pode levar, este ano, a um recuo de 0,7 pontos percentuais (pp) no Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro, bem como a uma subida de 1,2 pp na inflação.

Segundo os cálculos, em 2025, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) seria de 0,1 pp e na inflação seria de 0,2 pp.

No documento, a instituição admite que o conflito no Médio Oriente, entre Israel e o grupo islamita Hamas, "veio agravar as perspetivas económicas" europeias.

"Embora, até à data, o impacto nos preços do petróleo tenha sido modesto, a região alberga grandes produtores de petróleo e rotas marítimas cruciais para o petróleo e o gás natural liquefeito através do Golfo do Suez. Uma extensão do conflito ou das suas ramificações políticas a toda a região, que causasse perturbações no abastecimento de energia, teria um forte impacto nos preços da energia, na produção mundial e no nível geral de preços", elenca Bruxelas.

Teme-se que um conflito mais generalizado na região possa colocar em risco os fluxos de gás natural liquefeito através do Estreito de Ormuz, por onde passa mais de um terço da produção mundial de petróleo, preocupações que podem levar a subidas no preço.

ANE // MSF

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