"Houve aqui um acordo com o Ministério dos Direitos Humanos, de um trabalho em conjunto, para que haja um espaço de memória, cidadania e direitos humanos, em Brasília, na nossa capital. O objetivo é que, no próximo ano, quando tivermos os 60 anos do golpe militar, termos essa obra importante para que as novas gerações tenham contacto com essa triste parte da história", explicou à Lusa o ministro da Justiça e da Segurança Pública do Brasil, Flávio Dino, em visita ao Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago, no contexto dos 50 anos do golpe de Estado no Chile.

O ministro Flávio Dino participou, no museu chileno, da inauguração da exposição de 40 fotografias de Evandro Teixeira, então fotógrafo brasileiro, responsável por algumas das mais icónicas fotos sobre o golpe de Estado no Chile, incluindo prisioneiros no Estádio Nacional, o Palácio La Moneda bombardeado e a morte do poeta Pablo Neruda.

Segundo Flávio Dino, a construção de um Museu da Memória no Brasil será um trabalho coordenado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, responsável pelo acervo e pela apresentação dos espaços. O Ministério da Justiça será o responsável pelo capital, através de um fundo para projetos culturais.

Um dos responsáveis pelo acervo será o assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, ex-preso político da ditadura militar brasileira (1964-1985), integrante das comissões sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e sobre Amnistia.

"A importância deste museu é fundamental porque faz parte da luta pela democracia no Brasil. O país não vai conseguir consolidar a democracia se não tiver política de memória relacionada ao golpe militar e à ditadura", disse à Lusa o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, acrescentando que o esforço deve incluir ainda o Ministério da Cultura.

Independentemente do próximo museu em Brasília, outras duas cidades brasileiras têm projetos semelhantes.

No Rio de Janeiro, um projeto pretende transformar o prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), centro clandestino de prisão, tortura e morte, num museu para preservar a memória das violações de direitos humanos.

Em São Paulo, um projeto semelhante pretende o mesmo para o Destacamento de Operações e Informações do Centro de Operações e Defesa Interna (DOI-Codi).

O Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago é uma referência na América Latina. Foi inaugurado em 2011 pela então Presidente Michelle Bachelet, presa pela ditadura chilena (1973-1990) e filha de um militar torturado e morto por não concordar com o golpe do ditador Augusto Pinochet em 11 de setembro de 1973.

Em 17 anos, o regime de Pinochet deixou um saldo de 38.254 mil torturados e de 3.216 mortos, dos quais 1.162 continuam desaparecidos, incluindo crianças. Nove vítimas foram brasileiras no contexto da Operação Condor que unificou, clandestinamente, as ditaduras de sete países da região para perseguir e matar opositores que fugissem de um país para o outro.

MYR // VM

Lusa/Fim