Crónica das Guerras
No mundo da Ciência Política e Relações Internacionais, na última década, há uma discussão entre dois politólogos - com os devidos seguidores - que tem marcado a agenda teórica. De um lado, Steven Pinker que acredita que todas as formas de violência, incluindo a guerra, estão em declínio. Uma tese que apresenta no livro Os anjos bons da nossa natureza. Do outro lado, Braumoeller no livro Only the Dead (sem tradução em português), discorda e defende a probabilidade haver uma guerra nos nossos tempos que ultrapasse a letalidade das duas guerras mundiais.
Se na origem do desentendimento dos dois americanos está a interpretação dos dados, olhando para o mundo é difícil ser-se optismista. É, claro, que como defende Pinker já não há uma violência generalizada no mundo ocidental e que, na maioria dos países, se vive o período de tréguas mais longo da história do planeta. Mas, não é por isso que não deixa de haver conflitos de uma violência impressionante em pleno ano de 2024.
No que concerne a um dos mais recentes, mas também dos mais antigos, os ministros dos Negócios Estrangeiros palestiniano e israelita são recebidos hoje em Bruxelas pelos homólogos europeus, no dia em que os 27 devem adotar sanções contra o movimento islamita Hamas e discutir missão no Mar Vermelho. No mesmo dia em que o chefe da diplomacia europeia disse que a situação humanitária na Faixa de Gaza “não podia ser pior”, rejeitando paz imposta por Israel “apenas por meios militares” e que deve antes assentar numa solução de dois Estados. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita afirmou que Riade rejeita normalizar as relações com Israel e que não vai contribuir para a reconstrução de Gaza sem uma via credível para um Estado palestiniano.
O exército israelita disse hoje que eliminou, nas últimas horas, várias "células terroristas" do Hamas no norte e centro da Faixa de Gaza, quando está a intensificar a sua ofensiva militar em torno de Khan Yunis. E perante a diplomacia internacional, e os ataques do seu país a Gaza, os familiares dos mais de 100 prisioneiros em Gaza às mãos do Hamas acamparam ontem à noite em frente à residência do primeiro-ministro israelita, depois de este ter rejeitado um cessar-fogo em troca da libertação de todos os reféns. E, em Lisboa, manifestantes pró-Palestina interromperam concerto de quarteto israelita-russo em Lisboa. O incidente decorreu na noite de domingo durante a atuação do Quarteto Jerusalém na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Os responsáveis foram removidos da sala.
Se janeiro é altura de resoluções e desejos, apenas podemos pedir a utopia de um mundo melhor.
*Com Lusa
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