Um novo panorama tecnológico apresenta sempre oportunidades para empresas que já estão no mercado há bastante tempo. A apresentação de um novo produto ou serviço ou um rebranding são exemplos disso. Mas as empresas também podem ver um produto seu ter, subitamente, uma procura esmagadora e bem maior quando comparada com anos recentes.

Foi o que aconteceu com a Nvidia, com a atual corrida por tecnologias de inteligência artificial. A empresa liderada por Jensen Huang construiu nas últimas três décadas uma reputação ímpar no mundo do gaming, uma vez que foram as suas inovações pioneiras no ramo que redefiniram a forma como vivemos os videojogos. Mas agora tem toda uma nova dimensão graças a uma série de escolhas estratégicas, nomeadamente na aposta em GPUs.

O salto

No final de 2022, um mês depois da introdução do ChatGPT e um ano após o boom de valorizações em bolsa, a Nvidia valia 364 mil milhões de dólares e apresentava receitas para o trimestre de 7,64 mil milhões de dólares. Era uma das empresas americanas com maior notoriedade, mas sem ser uma Microsoft, uma Apple ou uma Alphabet.

Avançando apenas 12 meses, essa perceção mudou. As soluções da Nvidia tornaram-se numa opção muito atrativa para todas as empresas que estavam à procura de poder computacional para os seus produtos de inteligência artificial. A demanda pelos seus GPUs e data centers explodiu da noite para o dia. Um olhar rápido aos números da empresa no último trimestre de 2023 são um reflexo disso.

  • 22,1 mil milhões de dólares em receitas no Q4 2023, representou um crescimento de 265% face ao mesmo período de 2022. Deste valor, mais de 18 mil milhões foram receitas atribuídas só a vendas relativas aos data centers da Nvidia. O segmento do gaming passou agora para segundo plano, representando “apenas” 2,87 mil milhões de dólares.
  • Lucros de 12,3 mil milhões de dólares vs os 1,4 mil milhões registados no mesmo trimestre há um ano.
  • Atualmente, a empresa controla 80% do mercado de chips de alta qualidade para IA.

A febre de Wall Street

Esta apresentação de resultados era um dos momentos mais aguardados pelos analistas de Wall Street, que já tinham colocado as expectativas em alta para aquele que poderia ser o crescimento da Nvidia dadas as condições do mercado. Em 2023, a empresa já tinha sido a melhor ação, em termos de valorização, do S&P 500 (índice de referência para a economia americana com as 500 principais empresas), adicionando 1,2 biliões de dólares (trillion) ao seu valor de mercado, um sinal da aposta de investidores na crescente dominância que a Nvidia estava a ter em inteligência artificial.

No dia seguinte, outro recorde. Face aos números apresentados, os investidores não perderam tempo a comprar mais ações da Nvidia e fizeram com que em apenas um dia o valor de mercado da empresa crescesse 277 mil milhões de dólares para 1,94 biliões de dólares (trillion). Não só foi a maior adição de sempre de valor a uma empresa numa única sessão em Bolsa, como fez com que a Nvidia se tornasse na terceira empresa mais valiosa do mundo inteiro, atrás da Microsoft e da Apple, mas à frente de nomes como a Alphabet, a Amazon e a Meta. Depois de algumas oscilações, assim se manteve até ao final da semana.

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O futuro da Nvidia

Apesar de todo o investimento, ainda estamos nos primórdios do desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial. Por isso, a tendência diz-nos que a procura pelas soluções da Nvidia continuará a aumentar — ainda que o CEO Jensen Huang tenha alertado que vai ser difícil nos próximos anos repetir o crescimento dos últimos meses.

Depois, por um lado, as outras Big Tech não estão a dormir e cada uma já está a fazer um forte investimento em chips que reduzam a dependência da Nvidia e até competir com a mesma neste mercado. A empresa tem a vantagem inicial e uma quota de mercado gigante, mas a indústria está sempre a mudar e é expectável que enfrente alguns desafios.

Por outro, apesar do crescimento das receitas, a empresa foi uma das vítimas do conflito atual que existe entre os EUA e a China quanto ao desenvolvimento de semicondutores aka chips. A Nvidia não os está a produzir ao ritmo que desejava e isso cria espaço para outros concorrentes aparecerem — ainda que, por agora, os seus GPUs sejam dos componentes mais procurados no mercado e que, dada a escassez, o seu valor tem vindo progressivamente a aumentar.