No leste de Caracas, centenas de pessoas concentraram-se junto do supermercado Excelsior Gama, propriedade de portugueses, em fila para tentar entrar ao estabelecimento, com alguns a queixarem-se de que o salário dá para pouco mais que uma maionese.

“Não sabemos de quem é a culpa. Temos fome, a inflação afeta-nos a todos. Se tomamos um café diário (num restaurante) a quinzena (salário quinzenal) não dá para mais nada. Comprar um frango custa quase um salário, não sabemos como alimentar as famílias”, disse uma cliente à Agência Lusa.

Uma dúzia de ovos custa um salário, disse o mesmo cliente, e “comprando um quilograma de arroz e um pacote de farinha de milho acabou-se o dinheiro recebido”.

Mas as críticas vão também para o Governo venezuelano, que, segundo Aída Linares, “é mau a gerir a economia e culpa sempre outros por isso”.

“Não está bem aproveitar uma situação como esta (descida de preços)”, referiu, mas garante que se ela não o fizer outros o farão e só assim poderá comprar algumas coisas.

As autoridades venezuelanas obrigaram na sexta-feira 214 sucursais de 26 redes de supermercados a baixar os preços dos produtos para valores inferiores aos comercializados no princípio de dezembro.

A medida, aplicada pela Superintendência de Preços Justos (Sundde) afetou, entre outras, as redes de supermercados Central Madeirense, Unicasa, Plazas, Excelsior Gama, Luvebras, propriedade de portugueses radicados na Venezuela.

Segundo o superintendente William Contreras, as autoridades “comprovaram que grandes cadeias (de supermercados) estavam remarcando (a subir) os preços, sem justificação” por “tratar-se de produtos que tinham em inventário”.

“Já não podemos considerar estes atos como de simples especulação, são atos criminosos contra o povo. Não há razão para que estejam a fazer estas alterações de preços e por isso estamos a aplicando medidas corretivas”, disse aos jornalistas.

Entretanto a ONG Caracas Cidade Plural, apelou à população dos cinco municípios da capital para que proteste contra as medidas arbitrárias da Sundde, definindo a situação dos supermercados como de “saques controlados (pelo regime) que vão ocasionar mais escassez e a destruição do comércio privado”.

Segundo Carlos Júlio Rojas, da ONG Frente de Defesa do Norte de Caracas, a medida levou a que vendedores informais assediassem supermercados em San Bernardino e Santa Mónica, ocasionando momentos de tensão entre a população.

Por outro lado, acusou as autoridades de não obrigarem os supermercados estatais Pdvsal e Bicentenário a baixar os “preços elevados” de produtos que teriam sido adquiridos com subsídios do Estado.