“Existem fábricas com 300 funcionários que provavelmente vão parar”, contou Ricardo Geri, cofundador da Plan Ahead, empresa com sede em Pequim que exporta pedra artificial à base de quartzo para os Estados Unidos.

Para cumprir uma das principais promessas eleitorais, o Presidente norte-americano, Donald Trump, exigiu à China uma redução do crónico défice comercial dos EUA com o país em “pelo menos” 200.000 milhões de dólares, até 2020.

Trump quer ainda taxas alfandegárias chinesas equivalentes às praticadas pelos EUA e que Pequim ponha fim a subsídios estatais para certos setores industriais estratégicos.

Caso estas exigências não sejam satisfeitas, o chefe da Casa Branca ameaçou subir os impostos sobre um total de 150.000 milhões de dólares de exportações chinesas para os EUA.

“Há uma certa indignação entre os empresários chineses, que investiram muito dinheiro para aumentar a produção”, admitiu Geri, natural do estado brasileiro de Rio Grande do Sul e radicado em Pequim há cinco anos.

No caso particular dos produtos de quartzo, “a China fornece 70% do mercado norte-americano” e, nos últimos anos, “fábricas que tinham duas linhas de produção, passaram a ter quatro, seis ou até nove”, beneficiando da recuperação do setor da construção nos EUA e taxas alfandegárias inferiores a 2%, contou o empresário.

No entanto, aproveitando a crescente tensão entre Washington e Pequim, o fabricante líder norte-americano de produtos de quartzo, o Cambria Co., apresentou ao Departamento de Comércio dos EUA uma petição para subir as taxas sobre as importações oriundas da China para 455%, acusando os produtores chineses de receberem subsídios ilegais e prática de ‘dumping’, venda abaixo do custo de produção.

Em setembro, Washington irá decidir a taxa preliminar e, em julho do próximo ano, sairá a taxa final, com os produtos importados entre aquele período a serem taxados retroativamente.

“Criou-se um cenário de alto risco, que parará praticamente todas as importações”, afirmou Ricardo Geri.

Pelas contas de Washington, no ano passado, a China registou um excedente de 375,2 mil milhões de dólares, quase o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) português, no comércio com os EUA.

Hoje, uma delegação chinesa, chefiada pelo vice-primeiro-ministro, Liu He, retoma as negociações com o secretário de Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, em Washington, depois de uma primeira reunião, na semana passada, em Pequim, ter terminado sem tréguas anunciadas.

Pedro Ribeiro, empresário português radicado em Cantão, no sul da China, e que também exporta para os EUA, lembrou que as disputas comerciais poderão afetar também os exportadores norte-americanos de produtos alimentares.

Sabendo que grande parte do eleitorado de Trump se contra na América rural, Pequim ameaçou subir os impostos sobre a importação de soja e outros produtos alimentares dos EUA, caso Washington taxe os produtos chineses.

No caso da soja, por exemplo, em que 60% da produção norte-americana destina-se à China, as exportações dos EUA para o país asiático caíram de 255.000 toneladas métricas, na primeira semana de abril, para apenas 7.900, na última semana do mesmo mês.

O transporte de soja dos EUA para a China demora pelo menos 30 dias. Carregamentos feitos agora poderão ser taxados ainda antes de desembarcar na China, caso os dois lados não cheguem a acordo, o que levou várias empresas chinesas a cancelarem encomendas.

Pedro Ribeiro concordou: “A China tem muito a perder nesta guerra”. Mas disse não acreditar que o que “os EUA anunciaram entre em efeito na totalidade”.

“Esta é apenas a forma como o Trump negoceia”, concluiu.

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