Estas posições foram expressas no decorrer de uma interpelação do PCP ao Governo, no plenário da Assembleia da República, sobre o aumento do custo de vida para os portugueses, consequência da inflação e da conjuntura internacional.

Durante o debate, o deputado comunista Bruno Dias apontou para o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e fez um paralelismo entre uma casa a arder e as medidas para mitigar o aumento dos preços dos combustíveis.

“Se estiver uma casa a arder, e o senhor aparecer com um extintor nas mãos, e despejar o extintor por uma janela, compreende certamente que nas outras salas o incêndio vai continuar fora de controlo. E mesmo onde o senhor usou o extintor, ainda muita coisa pode queimar-se”, sustentou o deputado.

E continuou: “Depois pode dizer: ‘este extintor custou um dinheirão, fiz um grande esforço para vos acudir, e nem queiram saber como ficava esta casa se não fosse eu’. O problema é que a casa continuou a arder, e a gente já tinha avisado que era preciso fazer mais para apagar o fogo”.

O bloquista José Soeiro insurgiu-se contra o apoio ao cabaz alimentar no valor de 60 euros por família, que “não compensa o efeito da inflação” e também não abrange o conjunto de trabalhadores que dele necessitam.

“O que o Governo tem para oferecer é uma humilhação”, vincou o deputado do BE, acusando o Governo de praticar uma “política de complacência” com o aumento das desigualdades.

À direita, o deputado social-democrata Nuno Carvalho disse não saber em que país vivem os ministros de António Costa e recorreu à ironia para falar daquilo que o partido diz ser a incapacidade do executivo para levar o país a bom porto.

“Senhores ministros, digam lá, vocês não sabem o que fazer com a maioria absoluta, pois não? Parecem uma criança dentro de um carro desportivo. É tudo muito bonito, mas não chegam com os pés aos pedais”, comentou.

O líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, reagiu às intervenções do PCP ao longo do debate, afirmando que o discurso poderia ter sido feito por históricos comunistas, como Álvaro Cunhal, Octávio Pato ou Carlos Brito.

“O PCP não evoluiu nada, continua sempre no mesmo discurso, sempre com a mesma cassete. O que o senhor deputado Bruno Dias se esqueceu de dizer (…) foi que estamos a viver um aumento brutal de preços, e porquê esse aumento brutal de preços? Por uma guerra, por uma guerra que o PCP é o único partido aqui dentro deste parlamento que não foi capaz de condenar”, criticou.

Pela IL, o presidente do partido, João Cotrim de Figueiredo, argumentou que o PS “não vai conseguir explicar como é que num ano como o de 2022, com imensas dificuldades” para os portugueses, “não há baixa de impostos”.

A degradação das condições de vida dos portugueses e a inação do Governo, no entender dos liberais, “vai ser mais um exemplo de como gostam [os socialistas] de fazer brilharetes com o dinheiro dos outros”, completou Cotrim de Figueiredo.

Depois de um debate de mais de duas horas, o ministro da Economia citou o filósofo israelita Yuval Harari para resumir as intervenções que ouviu ao longo da tarde: “A espécie humana tende a pensar com base em narrativas e não em factos, não em números, não em equações”.

“O que trazemos aqui são factos, são números e se quiserem, no futuro, equações”, respondeu Costa Silva, que considerou as palavras de todos os partidos jogos de “demagogia” e de “exploração das dificuldades” dos portugueses.