A agência russa para a administração da família e da infância de Krasdonar colocou informação nas redes sociais sobre um programa através do qual Moscovo transferiu já mais de mil crianças ucranianas de Mariupol para Tyumen, Irkustsk, Kemerov e Altay Krai, onde estão a ser adotadas por famílias russas.

De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra — um ‘think tank’ com sede em Washington — a agência informou que tem ainda mais de 300 crianças ucranianas à espera de “conhecerem as suas novas famílias”.

As autoridades russas prometem “benefícios” aos cidadãos russos que decidam adotar estas crianças, incluindo cerca de 20 mil rublos (cerca de 350 euros).

A informação confirma a acusação do Governo ucraniano de que Moscovo está a realizar adoções ilegais em massa de crianças ucranianas, transferidas de zonas ocupadas para a Rússia.

“A Rússia continua a raptar crianças a partir do território ucraniano e a providenciar a sua adoção ilegal por cidadãos russos”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) ucraniano num comunicado divulgado na terça-feira.

Hoje, os serviços de informação da Ucrânia reconheceram que a Rússia transferiram para Nizhny Novgorod 30 crianças de Khartsyzk, Ilovaysk e Zuhres, no ‘Oblast’ de Donetsk ocupado, sob o pretexto de que iriam participar em programas de treino educacional para jovens.

O Instituto para o Estudo da Guerra lembra que a transferência forçada de crianças “com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional étnico, racial ou religioso” é uma violação das convenções internacionais de proteção de jovens.

No seu mais recente relatório, o ‘think tank’ norte-americano informa ainda que as autoridades russas estão a enviar forças de segurança para Lugansk, explicando que se pode tratar de uma forma de resposta ao declínio do apoio aos esforços de guerra entre os habitantes.

O Ministério do Interior russo admitiu que situações semelhantes se repetem em algumas cidades do ‘Oblast’ de Lugansk ocupado, obrigando a patrulhas conjuntas do Exército e das forças policiais.

As autoridades ucranianas confirmaram esta situação e deram hoje conta de episódios de reforço de elementos de segurança russos em áreas ocupadas, para tentar garantir a colaboração da população nos esforços de guerra comandados a partir de Moscovo.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

Na guerra, que hoje entrou no seu 181.º dia, a ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, sublinhando que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos no final do conflito.