O foguete Falcon9 descolou na hora prevista, às 20h02 do horário local (01h02 de Lisboa) desde a lendária plataforma de lançamento 39A do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, acendendo uma bola de fogo que iluminou a noite.

Minutos depois, a cápsula Dragon contendo os passageiros desacoplou-se do corpo do foguete para iniciar o passeio em órbita.

"Poucos já estiveram lá e muitos seguirão. A porta está a abrir-se, é incrível", declarou o bilionário Jared Isaacman, comandante da missão, desde o interior da cápsula depois de chegar ao espaço.

Os quatro norte-americanos a bordo viajarão para mais longe que a Estação Espacial Internacional (ISS), a uma órbita a 575 km da Terra. A cada dia o grupo completará 15 voltas à volta do planeta.

Com nome de Inspiration4, a missão é a primeira da história a enviar apenas civis à órbita terrestre, sem astronautas profissionais a bordo.

Após receber a visita do chefe da SpaceX, Elon Musk, os quatro tripulantes entraram por volta das 16h00 locais em vários carros Tesla brancos sob o sol e os aplausos de uma pequena multidão, para chegar ao edifício onde colocaram os trajes especiais antes de embarcar.

De seguida, a tripulação chegou à plataforma de lançamento, embarcou na nave e, após uma série de verificações de segurança, as escotilhas da cápsula foram fechadas.

O voo da SpaceX foi fretado pelo bilionário americano Jared Isaacman, de 38 anos, fundador e diretor-executivo da empresa de processamento de pagamentos Shift4 Payment, sendo também ele um piloto experiente.

O preço que Isaacman pagou à SpaceX não foi revelado, mas está na ordem de dezenas de milhões de dólares — o empresário assegura apenas que foi menos do que os 200 milhões de dólares que pretende angariar para o Hospital St.Jude, em Memphis, especializado em pediatria e tratamento oncológico, com o voo.

Além disso, na cápsula Dragon onde estarão os quatro tripulantes partirão para o espaço também uma série de objetos que depois serão leiloados para angariar fundos para o St.Jude, que também tem um departamento de investigação.

Entre os objetos encontram-se casacos com ilustrações dos pacientes do St.Jude, quase 30 quilos de lúpulo que será usado para criar uma cerveja da Samuel Adams, um ukelele que será tocado por Sembroski no espaço, um peluche, canetas da Montblanc especialmente desenhadas para ser usadas no espaço, quatro relógios cronógrafos IWC Schaffhausen e um revista TIME onde os quatro tripulantes figuraram na capa. Além disso, segue também uma performance inédita da banda Kings of Leon em formato NFT (Non-Fungible Token), sendo assim um ativo digital exclusivo.

Isaacman, numa tentativa de fazer deste um voo representativo da sociedade, ofereceu as outras três vagas a pessoas desconhecidas. Hayley Arceneaux, sobrevivente de cancro ósseo quando era criança, é uma médica assistente de 29 anos, tornando-se a mulher americana mais jovem a entrar em órbita e a primeira pessoa com uma prótese (de fêmur) a viajar ao espaço. Arceneaux foi escolhida, porque trabalha como médica assistente no Hospital St. Jude.

Chris Sembroski, de 42 anos, é um ex-oficial da Força Aérea americana que atualmente trabalha na indústria da aviação e a quarta integrante é Sian Proctor, uma professora afro-americana de Geologia de 51 anos que chegou perto de ser selecionada em 2009 no programa de formação de astronautas da NASA.

Para a SpaceX, este é o primeiro passo para uma humanidade multiplanetária, a visão definitiva de Musk. "Isto está apenas a começar", declarou Isaacman em conferência de imprensa na terça-feira.

No fim da viagem, a tripulação começará uma vertiginosa descida para aterrar na Flórida. A bordo serão analisados os dados biológicos (ritmo cardíaco, sono, por exemplo) dos passageiros, assim como as suas capacidades cognitivas.

Os tripulantes poderão desfrutar de uma vista espetacular através de uma cúpula envidraçada instalada pela primeira vez na cápsula Dragon.

O treino do grupo durou apenas seis meses e incluiu a experiência de força G numa centrífuga - um braço gigante que gira em alta velocidade — e voos parabólicos para experimentar a falta de gravidade por alguns segundos. Além disso, completaram uma caminhada na neve em grande altitude no Monte Rainier, na região noroeste dos Estados Unidos

O voo deveria ser totalmente automático, mas a tripulação foi preparada pela SpaceX para assumir o controlo em caso de emergência.

Esta missão fecha um verão no qual as empresas privadas entraram na corrida do turismo espacial — a iniciativa da empresa de Elon Musk segue às dos bilionários Richard Branson e Jeff Bezos, que cruzaram a fronteira espacial com as naves Virgin Galactic e Blue Origin, respectivamente, com poucos dias de intervalo em julho.

Mas esses voos ofereceram apenas alguns minutos de falta de gravidade. O advento dos programas de empresas privadas marca um ponto de inflexão.

"A descolagem do Inspiration4 lembra-nos do que pode ser realizado quando fazemos parcerias com a indústria privada", escreveu o chefe da NASA, Bill Nelson, no Twitter.

Esta é a quarta vez que a empresa de Elon Musk, que se tornou uma gigante da indústria em poucos anos, envia seres humanos ao espaço, depois de lançamentos com 10 astronautas à ISS em nome da NASASpaceX.

A SpaceX prevê outros voos de turismo espacial, incluindo um a partir de janeiro de 2022 que deve transportar três empresários à ISS.