Estas posições foram transmitidas pelos dois chefes de Estado no Palácio Presidencial de Chipre, em Nicósia, após terem tido uma reunião de cerca de uma hora, primeiro em formato bilateral e, de seguida, alargado às delegações dos dois países.

Em declarações no final da reunião, sem direito a perguntas, o presidente cipriota, Nicos Anastasiades, estabeleceu paralelos entre a atual situação na Ucrânia e a de Chipre, cuja parte norte está, desde 1974, ocupada por forças militares turcas, tendo sido proclamado um Estado independente naquele local que é apenas reconhecido por Ancara.

Segundo Anastasiades, da mesma forma que a Rússia anexou, em setembro, quatro regiões ucranianas ao arrepio do direito internacional e da Carta das Nações Unidas, também Chipre sofreu o mesmo tipo de violação “com a invasão turca ilegal em 1974 e a ocupação contínua de um terço” do território do país.

“À medida que assistimos à maneira como a comunidade internacional respondeu, de maneira unida e empenhada, à violação injusta da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia, também esperamos que os nossos parceiros demonstrem o mesmo empenho, unidade […] na questão cipriota, e em fazer valer a nossa soberania e os nossos direitos soberanos”, sublinhou.

O chefe de Estado cipriota defendeu que esse empenho da comunidade internacional é “ainda mais pertinente” dada a “posição inaceitável da Turquia a favor de uma solução de dois Estados” em Chipre.

“Meu caro Marcelo, eu continuarei a levar a cabo iniciativas para ‘quebrar’ o impasse atual”, assegurou Anastasiades, dirigindo-se ao chefe de Estado português.

Na resposta ao apelo feito por Anastasiades, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que a comunidade internacional reconhece a “independência, soberania e integridade territorial” da República de Chipre.

“É por isso que nos juntamos ao que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tem feito desde que foi eleito no seu primeiro mandato, e também no segundo mandato, ao tentar encontrar uma maneira de lidar com problemas, ruídos, situações irritantes que, de tempos a tempos, aprofundam problemas estruturais e de longo prazo para resolver”, referiu.

O encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e Nicos Anastasiades foi o primeiro ponto de agenda da visita oficial do Presidente português à República de Chipre, que começou hoje e termina no domingo.

Antes de se ter reunir com o seu homólogo cipriota, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido no Palácio Presidencial com uma cerimónia de boas-vindas, tendo depositado uma coroa de flores junto da estátua do primeiro presidente cipriota, o arcebispo Makarios III.

No interior do palácio, e antes de o encontro entre os dois chefes de Estado ficar fechado à comunicação social, Marcelo Rebelo de Sousa e Nicos Anastasiades trocaram umas palavras, com o Presidente português a dizer ao seu homólogo cipriota que viu Makarios III em Paris, nos anos 1960, e que era uma “figura impressionante”, que se assemelhava a um “líder espiritual”.

Depois, os dois presidentes trocaram as mais altas condecorações concedidas a chefes de Estado estrangeiros: Marcelo Rebelo de Sousa distinguiu Nicos Anastasiades com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique, tendo recebido do seu homólogo cipriota o Grande-Colar da Ordem de Makarios III.