Uma sondagem da firma Opinium de meados de agosto indicava que mais de 60% dos militantes responderam que “idealmente” optariam por Johnson, em vez dos candidatos Liz Truss ou Rishi Sunak.

Noutro estudo da YouGov para a estação Sky News também este mês, Johnson angariou 46% das preferências, quase tanto quanto Truss (24%) ou Sunak (23%) juntos, enquanto 55% dos inquiridos manifestou-se contra a sua saída.

Isto apesar de ter sido o próprio partido, com a demissão de mais de 50 membros do governo, a forçar a demissão do líder Conservador, na sequência de uma série de escândalos e dúvidas sobre a integridade do chefe do Executivo.

Na passada terça-feira, pressionado por jornalistas durante uma visita para promover a expansão da Internet de banda larga em zonas rurais do país, sobre se rejeita voltar a candidatar-se a primeiro-ministro, Johnson não se comprometeu.

“Penso que a maioria das pessoas neste país está mais interessada na sua ligação à Internet de alta velocidade do que no destino de um ou outro político”, respondeu.

Uma campanha liderada por Peter Cruddas, milionário e membro da Câmara dos Lordes, chegou a angariar quase 9.000 assinaturas para que a demissão de Boris Johnson pudesse ser revertida pelos militantes.

O próprio Johnson foi ambíguo, quando se despediu dos deputados em julho com um “hasta la vista, baby” [até à próxima], a famigerada frase do filme “Exterminador 2”.

Noutra cena famosa do filme, a personagem de Arnold Schwarzenegger também anunciou que regressaria [“I’ll be back”], mas Johnson não repetiu essa fala.

“Acho que existe clara possibilidade” de Johnson voltar, disse o lorde Conservador Jonathan Marland à BBC, antecipando um cenário em que o partido, após uma derrota nas eleições legislativas, procure um “líder que ganhe eleições e Boris tem isso”.

O antigo colega Rory Stewart, que entretanto se tornou num arquirrival, conjectura que Johnson possa seguir o exemplo do italiano Silvio Berlusconi ou do paquistanês Imran Khan, caídos em desgraça mas que anunciaram publicamente o desejo de voltar ao ativo.

“Ele vai estar a andar por aí, à espera de um regresso populista”, afirmou Stewart, numa entrevista ao jornal The Guardian.

O antigo editor de política do tablóide The Sun, Trevor Kavanagh, advertiu que o regresso de Johnson ao poder “seria um desastre para o partido Conservador, para o país e para o próprio Boris”.

Apesar da admiração entre os tories, “Bojo”, como é conhecido, divide opiniões e muitos britânicos não esquecem os numerosos passos dados em falso, nomeadamente o escândalo ‘Partygate’ das festas ilegais em Downing Street durante a pandemia covid-19.

Para se manter disponível, o atual primeiro-ministro precisa de continuar no Parlamento como deputado, como fez Theresa May em 2019.

Mas um inquérito parlamentar sobre se mentiu aos deputados sobre as festas em Downing Street durante a pandemia poderá resultar numa suspensão e perda do mandato.

Na história contemporânea britânica, só dois primeiros-ministros voltaram ao cargo uma segunda vez, o conservador Winston Churchill e o trabalhista Harold Wilson, mas ambos mantiveram-se como líderes dos respetivos partidos e da oposição no intervalo entre os dois mandatos.

Na terça-feira, Boris Johnson, deverá apresentar a demissão à rainha Isabel II, o que acontecerá pela primeira vez em 70 anos de reinado no castelo de Balmoral, no norte da Escócia, em vez do Palácio de Buckingham em Londres.

O sucessor de Johnson, e 15.º chefe de Governo no reinado de Isabel II, será também recebido na Escócia na terça-feira pela monarca, que deverá então indigitar o novo primeiro-ministro (ou primeira-ministra) para que forme um novo governo enquanto líder do partido com maioria parlamentar.