O número peca por defeito, uma vez que resulta somente de dados recolhidos pelo Jornal de Notícias junto da Associação de Clínicas Acreditadas para a Interrupção Voluntária da Gravidez (ACAIVE), que representa 31 clínicas em Espanha, sendo que estes números, segundo o mesmo meio, não entram nas estatísticas oficiais portuguesas nem espanholas. No entanto, de acordo com o JN, pelo menos, 637 mulheres escolheram abortar em Espanha em 2021.

Os dados indicam que a clínica de Badajoz recebeu 500 mulheres portuguesas, a de Huelva 25 e a de Sevilha 20. Fora do grupo representado pela associação, a Clínica Castrelos, em Vigo, revelou ter recebido em 2021 92 mulheres para interrupção da gravidez.

Aquilo que levará centenas de mulheres a optarem por se deslocar ao país vizinho e pagarem por um aborto, que pode custar entre 350 a 500 euros, de acordo com o método utilizado, medicamentoso ou cirúrgico, quando o poderiam fazer de forma gratuita em Portugal, no Serviço Nacional de Saúde, estará principalmente relacionado com questões de prazos legais. Em território nacional, a interrupção voluntária da gravidez é permitida até às 10 semanas de gestação, quando em Espanha este prazo se alarga até às 14 semanas.

O prazo legal foi a principal razão apontada pela clinica de Vigo e pela ACAIVE ao JN, no entanto, Rita Garcia, presidente desta associação, aponta que há outra razão: o método. Se em Portugal, no SNS, 98% dos 14 899 abortos por opção da mulher foram medicamentosos, segundo o último relatório da DGS relativo a 2017, o facto de a mulher não ficar exclusivamente presa a este procedimento também pesa na decisão, uma vez que podem optar pelo método cirúrgico.