Na zona de penumbra do oceano, entre 600 e 800 metros abaixo da superfície, há peixes que olham para cima através das suas cabeças transparentes, com olhos como orbes esmeraldas hipnotizantes, conta o The Guardian. São enormes lentes esféricas que assentam num par de tubos oculares longos e prateados — daí o seu nome comum: peixe olhos-de-barril (microstoma macropinna).

E se há anos é sabido que estes peixes existem, ainda há algumas questões por desvendar quanto à espécie. Afinal, não são de fácil acesso e muitas vezes são apenas estudados espécimes mortos.

Com olhos de tonalidade verde, estes peixes possuem uma espécie de óculos de sol que permitem localizar as suas presas, principalmente as bioluminescentes.

O pigmento ocular dos peixes olhos-de-barril permite-lhes distinguir entre a luz solar e a bioluminescência, diz Bruce Robison, biólogo de alto mar do Monterey Bay Aquarium Research Institute, na Califórnia. E isto ajuda a espécie a obter uma visão clara dos animais que tentam esconder-se nas sombras.

Por outro lado, os olhos tubulares são extremamente sensíveis e absorvem muita luz, o que é útil nas profundezas. Mas Robison ficou inicialmente admirado pelo facto de os olhos deste peixe parecerem fixos num pequeno ponto de água, mesmo acima das suas cabeças.

"Sempre me intrigou que os seus olhos apontassem para cima, mas o campo de visão não incluía as suas bocas", diz. Ou seja, isto criava um problema: o peixe estaria a tentar comer restos de comida a flutuar à sua frente, enquanto fixava os olhos no que se passava acima de si.

Contudo, depois de anos a ver apenas espécimes mortos apanhados em redes, Robison e os colegas finalmente conseguiram observar um peixe olhos-de-barril vivo através das câmaras de alta definição de um veículo operado à distância.

"De repente, a lâmpada acendeu e eu pensei 'Ah, é isso que se passa. Eles podem rodar os olhos'". Isto significa que os peixes podem seguir as presas à deriva através da água até que estas estejam mesmo à frente da boca.

Ao ver um exemplar vivo nas profundezas, Robison apercebeu-se de outra coisa que os cientistas tinham perdido anteriormente: o animal tem uma espécie de dossel sobre os seus olhos, que provavelmente ajuda a proteger a visão de animais que piquem.

Mesmo assim, os mistérios ainda devem continuar, já que encontrar peixes olhos-de-barril na natureza não é fácil. Nos seus 30 anos de carreira, Robison diz que só viu estes animais de 15 cm de comprimento vivos talvez oito vezes. "Passamos lá muito tempo a explorar, por isso posso dizer com alguma confiança que são bastante raros", remata.