Entrevistado através da plataforma Skype, Dmytro Kuleba disse ao Diário de Notícias não compreender as acusações de associação à extrema-direita que a Ucrânia tem sido alvo, deixando críticas às forças políticas que as têm feito, o que inclui o PCP.

O momento surge no final da conversa, quando Kuleba é instado a comentar quanto ao facto de que no Parlamento português ”houve mesmo um partido que se recusou a ouvir o discurso do presidente Zelensky” e que acusa “o Estado ucraniano de extremismo e de proteção a forças extremistas”, referências implícitas às posições e decisões do PCP.

Em resposta, o ministro considera tal posição “exatamente o que a propaganda russa tem espalhado pela Europa nestes últimos anos, dizendo que os ucranianos são extremistas, nazis, de extrema-direita” e defendendo a ausência de partidos de extrema-direita no parlamento ucraniano desde 2014.

“Tenho uma pergunta para fazer àqueles que continuam a acusar os ucranianos de serem extremistas: Depois de terem visto Bucha, de terem sabido de centenas de civis deliberadamente torturados, mortos, violados, múltiplas vezes, incluindo adolescentes, pelo exército russo, quem é que se pode atrever a chamar-nos extremistas? É só o que posso dizer. Nós não cometemos um ato de agressão contra outro país. Sabe que nós intercetámos algumas comunicações de soldados russos para as suas famílias na Rússia e esses soldados queixavam-se de que tinham ido para lá para derrotar os fascistas, mas não viam nenhum sinal de nazismo ou fascismo na Ucrânia”, atirou Kuleba.

Todavia, não é referido nesta conversa o facto de vários partidos políticos ucranianos terem tido a sua atividade suspensa pelo Governo não só durante a guerra, mas também antes, tendo o Partido Comunista Ucraniano sido banido em 2015 sob acusações de “promover separatismo”.

Recorde-se que o PCP recusou-se a participar na sessão solene na Assembleia da República com a presença do Presidente da Ucrânia no passado dia 21, considerando a sessão "concebida para dar palco à instigação da escalada da guerra, contrária à construção do caminho para a paz, com a participação de alguém como Volodymyr Zelensky, que personifica o poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi, incluindo de caráter paramilitar, de que o chamado Batalhão Azov é exemplo".

Na mesma entrevista, Kuleba pede a Portugal três coisas: o “fornecimento à Ucrânia de armas e de todo o equipamento militar necessário, sem restrições e sem quaisquer reservas de qualquer natureza”, o apoio “sem restrições e sem quaisquer reservas a todas as sanções impostas à Rússia pela União Europeia” e o “apoio total, sem restrições e sem quaisquer reservas, ao processo de adesão da Ucrânia à UE num futuro previsível”.

Os apelos de Kuleba são semelhantes aos que Zelensky fez ao parlamento português no seu discurso.