“A manifestação que estamos aqui a fazer usa réplicas de cartazes levantados em solo russo por vários manifestantes e que por isso foram detidos, presos ou agora têm de pagar uma multa avultada”, explicou o diretor de comunicação e campanhas da Amnistia Internacional em Portugal, Paulo Fontes, à Lusa.

Afastados cerca de 50 metros da embaixada da Rússia, perto de 30 pessoas empunham cartazes em russo, algumas delas com a boca tapada por um adesivo para simbolizar a falta de liberdade de expressão existente na Rússia, onde as manifestações contra a invasão da Ucrânia estão proibidas.

“Mais de 15 mil pessoas foram detidas desde o início da ofensiva militar, e daí estas manifestações contra a guerra, que é também uma palavra proibida, são logo reprimidas”, disse Paulo Fontes.

“Toda a sociedade civil é altamente reprimida, incluindo jornalistas, mais de 100 tiveram de abandonar o país, e organizações da sociedade civil, organizações não governamentais (ONG) como a nossa tiveram de fechar na Rússia, uma ação que afeta todas as pessoas que possam ter uma voz dissidente e trazer esclarecimentos e uma contra-narrativa à criada por Putin para justificar o ataque à Ucrânia”, acrescentou.

Questionado sobre a pouca adesão a esta iniciativa de apoio aos russos que se manifestam contra a sua liderança política, o responsável de comunicação da AI Portugal respondeu: “Este assunto tem vindo a acompanhar-nos e se calhar as pessoas têm já no conjunto do seu dia a dia, assistir a estas situações constantemente tem o seu lado perverso, que é normalizarmos o que se passa, de alguma foram, o que não deveria acontecer”.

Ainda assim, continuou, “a iniciativa teve uma grande adesão nas redes sociais, e isso é um passo, é uma ação simbólica, estamos a repetir uma ação que na Rússia muitas pessoas fizeram sozinhas, mas em casa há outras maneiras de ajudar”.

Entre as formas que a AI Portugal tem para chamar a atenção para a falta de liberdade de expressão na Rússia, Paulo Fontes elencou a petição que está disponível no site e desafiou também as pessoas “a replicarem estas ações e a partilharem nas suas próprias redes sociais para criar uma consciencialização pública sobre o que se está a passar e para que as pessoas estejam ligadas”.

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, desencadeando uma guerra que provocou um número de baixas civis e militares ainda por determinar.

A ONU confirmou na quarta-feira que pelo menos 2.787 civis morreram e 3.152 ficaram feridos, mas manteve o alerta para a probabilidade de os números serem consideravelmente superiores.

O conflito levou mais de 5,3 milhões de pessoas a fugir da Ucrânia, na pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).