Trump, novamente em campanha eleitoral para uma possível reeleição contra o presidente democrata Joe Biden em novembro, é o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a sentar-se no banco dos réus.

O republicano é acusado de falsificar registos comerciais para ocultar o pagamento de 130 mil dólares à ex-atriz pornográfica Stormy Daniels. A Procuradoria alega que Trump cometeu “fraude eleitoral” ao encarregar o seu então advogado Michael Cohen de pagá-la, na véspera das eleições nas quais bateu Hillary Clinton.

No terceiro dia de interrogatório, David Pecker, ex-CEO da editora que publicava o tabloide National Enquirer e primeira testemunha a depor, contou sobre a prática conhecida como "pegar e matar", que consiste em comprar notícias potencialmente prejudiciais e enterrá-las.

Foi assim com o caso da modelo da Playboy Karen McDougal, a quem o National Enquirer deu 150 mil dólares pela sua história sobre uma suposta relação sexual que terá tido com o magnata e que nunca foi publicada.

"Compramos a história para que nenhum outro meio de comunicação a publicasse. Não queríamos que prejudicasse Trump ou atrapalhasse a sua campanha", reconheceu o homem de 72 anos que também foi editor do jornal.

"Queria proteger a minha empresa, queria proteger-me e também queria proteger Donald Trump", afirmou Pecker aos membros do júri, descrevendo que os esforços com o candidato e o seu advogado visavam influenciar as eleições presidenciais.

Sobre o pagamento, Cohen disse-lhe: "O chefe vai cuidar disso". Os pagamentos a McDougal foram disfarçados como serviços para a American Media, a empresa por trás do tabloide, para evitar violar as leis de financiamento de campanhas.

Mas quatro dias antes das eleições, uma reportagem exclusiva do Wall Street Journal expôs a história de McDougal. Pecker lembrou que Trump ligou-lhe e estava "muito chateado". "Como é que isso pôde acontecer? Eu pensei que tinha tudo sob controlo", ter-lhe-á dito Trump, para depois desligar sem se despedir.

E quando surgiu a história de Daniels, Pecker resistiu em pagar. "Eu não sou um banco", declarou Pecker, que não queria que a sua publicação, vendida em supermercados, fosse associada a uma estrela pornográfica.

O executivo sugeriu a Cohen que pagasse do próprio bolso, o que os promotores dizem que o então advogado e faz-tudo de Trump fez, usando a sua própria linha de crédito hipotecário e fazendo a transferência através de uma empresa de fachada.

Antes de o julgamento ser adiado até sexta-feira, a defesa do republicano concentrou-se no contra-interrogatório para demonstrar que essa prática de "pegar e matar" era algo comum na empresa, mesmo antes de colaborar com Trump.

Em plena campanha eleitoral para as eleições de 5 de novembro, o magnata aparece nas sessões cada vez mais irritado por ter sido obrigado a comparecer diariamente à antiga sala do tribunal e ouvir tanto a acusação como o depoimento da primeira testemunha.

No início da audiência, a Procuradoria denunciou novamente ao juiz Juan Merchan que Trump continua a ignorar a sua ordem de proibir que insultasse pessoal relacionado com o julgamento. Após uma audiência realizada na terça-feira para analisar reiteradas violações, Merchan ainda deve anunciar se o multa ou não.

Talvez procurando evitar violar a ordem, Trump descreveu o depoimento desta quinta-feira como "impressionante e surpreendente". "Um dia incrível", declarou à imprensa ao sair do tribunal.