“É crucial que a política orçamental suporte a política monetária no restabelecimento dos preços” e ajude a reduzir a inflação para níveis próximos do objetivo [de 2% definido pelo Banco Central Europeu]”, afirmou.

O diretor de assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-ministro das Finanças do governo de Passos Coelho falava na conferência “Que visão para uma Economia Europeia Resiliente e Sustentável?”, hoje realizada em Lisboa, no âmbito o Dia da Europa, na qual foi abordado o tema “Recuperação das economias Europeia e Portuguesa depois da pandemia. Como enfrentar os acrescidos riscos geopolíticos e económicos trazidos pela guerra na Ucrânia”.

Em resposta a uma questão colocada pela ex-deputada do CDS-PP Cecília Meireles, que moderou o debate, sobre se uma inflação elevada ajuda à descida da dívida, Vitor Gaspar referiu que esse efeito é meramente “transitório”.

“O efeito da inflação na dívida é apenas transitório. Por isso, o melhor regime que um país ou uma zona económica pode ter no sentido de sustentar níveis elevados de dívida pública é um regime de preços estáveis”, referiu.

Para ilustrar esta sua posição, Vítor Gaspar usou como exemplo o caso dos Estados Unidos onde, de forma transitória, a subida da inflação fez cair em cerca de 12 pontos percentuais o peso da dívida pública no Produto Interno Bruto (PIB).

A presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Cristina Casalinho, que também participou neste debate, sublinhou, por seu lado, haver outras questões em termos de integração europeia que devem ser valorizadas, para “remover estrangulamentos” que estão a impedir iniciativas como o mercado de capitais único.

“Para aumentar a competitividade e fazer com que a economia seja mais sustentável, que os fundos sejam direcionados para a transição verde, é preciso resolvê-los”, afirmou.

“Por exemplo, harmonizar os reembolsos fiscais”, referiu, indicando que, para os investidores, “os procedimentos de reembolso são tão complexos e específicos de cada país, que nem sempre um investidor consegue antecipar o retorno líquido a que terá direito”.

A presidente do IGCP falou ainda em “harmonizar a lei das insolvências”, abordou questões práticas como a aceitação de assinaturas digitais em alguns países e noutros não, como questões que podem colocar obstáculos ao investimento.

À margem da conferência e questionada sobre se, perante a atual conjuntura de subida das taxas de juro, a estratégia de emissões de dívida poderia ser alterada, Cristina Casalinho recusou tal cenário, precisando que “as estratégias de financiamento são definidas numa perspetiva de médio e longo prazo”, sendo privilegiada a estabilidade.

Porém, ressalvou, tendo em conta que a “oferta está condicionada pela procura que enfrenta”, alterações de mercado que impliquem “alterações de preferências por parte dos investidores têm de ser acomodadas”.

Esta conferência, realizada pelo Jornal de Negócios com o apoio da Católica Business School, contou com a participação do diretor executivo do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Klaus Regling, que falou sobre as lições das crises anteriores para tornar a economia europeia mais resiliente e sustentável a longo prazo.

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