A ideia é abertamente endossada por altos funcionários e diplomatas russos, que preveem uma força de trabalho barata e trabalhadora que poderia ser lançada nas "condições mais difíceis", um termo que o embaixador da Rússia na Coreia do Norte usou numa entrevista recente, adianta a Associated Press (AP).

De acordo com a AP, o embaixador da Coreia do Norte em Moscovo reuniu-se recentemente com enviados dos dois territórios separatistas apoiados pela Rússia na região de Donbass, na Ucrânia, e expressou otimismo sobre a cooperação no "campo da exportação de mão de obra" norte-coreana, citando o alívio das restrições sanitárias por causa da pandemia no seu país.

As negociações surgem na sequência do reconhecimento da independência dos territórios de Lugansk e Donetsk, pela Coreia do Norte, tornando-se assim das poucas nações, para além da Rússia e da Síria, a reconhecer a independência destes territórios ocupados.

O envio de trabalhadores norte-coreanos para o Donbass entraria em conflito com as sanções do Conselho de Segurança da ONU impostas à Coreia do Norte sobre os seus programas nucleares e de mísseis e complicaria ainda mais a pressão internacional liderada pelos EUA para o seu desarmamento nuclear.

De acordo com um analista do Instituto de Estratégia de Segurança Nacional – um think tank administrado pela agência de espionagem da Coreia do Sul –, “a ideia de empregar trabalhadores norte-coreanos para a reconstrução do pós-guerra tem mérito real para a Rússia", disse, citado pela AP. "Um grande número de trabalhadores da construção civil norte-coreanos foram para a Rússia em anos anteriores, a demanda por esta mão de obra tem sido forte por ser barata e conhecida por trabalho de qualidade", reconheceu o analista.

Antes das sanções de 2017, as exportações de mão de obra eram uma rara fonte legítima de moeda estrangeira para a Coreia do Norte, trazendo centenas de milhões de dólares por ano para o governo. O Departamento de Estado dos EUA estimou, anteriormente, que cerca de 100.000 norte-coreanos estavam a trabalhar no exterior enviados pelo governo, principalmente para a Rússia e para a China. Alguns países africanos (incluindo o Médio Oriente), europeus e o sul da Ásia também têm recebido trabalhadores norte-coreanos, refere a agência de notícias.

Contudo, ainda não está claro o quão lucrativo o Donbass pode ser para a Coreia do Norte. A Rússia está com pouco dinheiro, devido às sanções ocidentais que visam as suas instituições financeiras e uma ampla faixa de indústrias. A Coreia do Norte provavelmente não tem interesse em ser paga em rublos, por causa das preocupações com o poder de compra da moeda, que chegou ao fundo durante os primeiros dias da guerra, antes de Moscovo tomar medidas para restaurar artificialmente o seu valor.

"A competição estratégica dos Estados Unidos com a China, e o confronto com a Rússia, deram à Coreia do Norte espaço para respirar enquanto se aproxima de Moscovo e Pequim numa frente unida para combater a influência dos EUA e promover um sistema internacional multipolar", refere Hong Min, analista do Instituto de Unificação Nacional da Coreia do Sul. "A Coreia do Norte pode ter em mente outras intenções para além dos ganhos de curto prazo com a exportação de mão de obra", disse citado pela AP.

Com AP*