Francisco vai visitar Moçambique, entre os dias 04 e 06 de setembro, tornando-se no segundo Papa a deslocar-se ao país, depois de João Paulo II o ter feito em setembro de 1988, em plena guerra civil no território.

Em declarações à Lusa, Eric Morier-Genoud, especialista em História Africana, considerou oportuna a visita do chefe da Igreja Católica, porque vai acontecer num momento em que Moçambique acaba de testemunhar mais um acordo de paz, que precisa de ser consolidado.

"Temos um contexto de acordo de paz (...), ele vem com uma mensagem de paz, reconciliação e de esperança, que penso que cai bem", afirmou Morier-Genoud, autor de várias obras sobre o catolicismo em Moçambique.

O académico espera que Francisco seja incisivo não só na questão de paz, mas também noutros assuntos da vida dos moçambicanos.

Nesse sentido, prosseguiu, se a visita acontecesse numa outra conjuntura, "não teria o mesmo peso", porque as prioridades nacionais seriam outras.

O padre moçambicano e docente de Filosofia Alfredo Manhiça acredita que o papa Francisco vai reforçar o entusiasmo dos moçambicanos em relação à fé e estabilidade do país.

"Não digo que ele traga soluções, mas pode trazer um espírito novo para afrontar os velhos problemas [que afligem a sociedade moçambicana]", considerou Alfredo Manhiça.

O papa Francisco, prosseguiu, vai confirmar a fé e o caminho de esperança que os moçambicanos têm percorrido.

Amad Camal, antigo deputado da Assembleia da República e empresário, vê em papa Francisco um educador do amor e da paz, que vai colocar sobre os ombros dos líderes moçambicanos maior responsabilidade na resposta aos anseios da sociedade.

"Eu estou convencido de que a vinda do papa responsabiliza mais os negociadores da paz e vai, através da sua narrativa, pressionar este processo [de paz], que vai muito bem, mas nós já o vimos descarrilar", considera Amad Camal, um dos mais conhecidos empresários moçambicanos.

Com a sua autoridade moral, Francisco vai colocar um "aditivo" por forma a que o processo de paz seja irreversível, acrescentou Camal, um muçulmano confesso, mas "fá" assumido de Francisco.

José Luzia, padre diocesano na província de Nampula, norte de Moçambique, é mais contido na euforia geral sobre o efeito da presença de Francisco para a paz em Moçambique.

Lembra que o país levou quatro anos para assistir ao Acordo Geral de Paz de 1992, que acabou com 16 anos de guerra civil, após a visita de João Paulo II, em setembro de 1988.

"Deus não substitui os homens. Em 1988, o papa João Paulo II veio [a Moçambique], mas ainda levamos quatro anos para ter a paz", recorda.

Filipe Couto, padre e ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga do país, também destaca a mensagem de paz e tolerância que Francisco transporta para todos os países que visita.

"[O papa] vem visitar toda a gente e quer que nós, em Moçambique, possamos conviver em paz, vem dar essa mensagem de paz", considera Filipe Couto.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, Ossufo Momade, assinaram no dia 06 deste mês o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional de Maputo, encerrando, formalmente, meses de confrontos militares que se seguiram após as eleições gerais de 2014.

O pacto foi o terceiro entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Renamo, no âmbito dos esforços de busca de paz.

O papa Francisco chega a Moçambique na quarta-feira para iniciar um périplo que o levará no dia 06 a Madagáscar e no dia 09 às ilhas Maurícias.

Os pontos altos da visita a Moçambique são um encontro inter-religioso com jovens num pavilhão desportivo da baixa de Maputo e uma missa no Estádio do Zimpeto em que são esperadas até 90 mil pessoas, segundo a organização.

De acordo com o censo geral da população moçambicana de 2017, a religião católica é seguida por 26% da população, o maior grupo, o Islão representa 18%, a religião zione 15%, evangélicos/pentecostais 14% e anglicanos cerca de 1%.

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