Ana Graça, que falava na abertura da 7.ª Reunião do Comité Regional de Pilotagem do Programa Hidrológico Internacional para a África, na cidade da Praia, salientou que o trabalho deve ser feito “lado a lado” com os órgãos de decisão, nomeadamente a administração central.

“A troca de experiências e cooperação proporcionada pelo Programa Hidrológico Internacional [PHI] e por fóruns como este é por isso de extrema relevância”, mostrou.

A coordenadora lembrou que, segundo a ONU, 844 milhões de pessoas ainda não têm acesso a água potável e cerca de 70% do habitat aquático natural desapareceu no último século.

Ana Graça sublinhou ainda que a escassez de água é uma fonte de conflitos e tensões entre comunidades e populações na região do Sahel, pelo que é também uma questão ligada à prevenção de conflitos e à paz mundial.

O ministro da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, Gilberto Silva, afirmou que a gestão da água é um desafio mundial, mas com “contornos muitos específicos” em África, continente que alberga 19% da população mundial e dispõe de 9% do total de água potável do planeta.

Por isso, considerou que um dos desafios para a gestão dos recursos hídricos no continente passa pela qualificação e motivação dos profissionais do setor.

Mas também, advertiu, “pelo desenvolvimento de instituições e sistemas eficazes, dotados de uma boa capacidade de pesquisa e de recolha, avaliação e disseminação de dados e informações”.

“São desafios que se prendem com o desenvolvimento de estratégias eficazes e fiáveis para lidar com a variabilidade de mudanças climáticas, ameaça de escassez de água e mesmo desaparecimento de cursos de água”, prosseguiu o ministro do Ambiente de Cabo Verde, país insular, localizado no Sahel e que enfrenta desafios da escassez de água, irregular precipitação e ausência de fontes permanentes de água doce na superfície.

Referindo-se ainda ao combate à exploração excessiva de recursos hídricos e à degradação de bacias hidrográficas e ecossistemas, o ministro cabo-verdiano disse ainda que outro desafio tem a ver com a mobilização de financiamento para os investimentos necessários no setor.

Para o governante, é preciso igualmente a “mobilização da vontade política e do compromisso de todos” para as questões relacionadas com a água.

Quem também sublinhou a importância do envolvimento da comunidade científica para a segurança hídrica foi o diretor do Escritório Multissetorial da UNESCO para África e Sahel, Dimitri Sanga, para quem a educação tem um “papel fundamental” nessa questão.

“Os sistemas de educação devem produzir e preparar especialistas que possam contribuir para enfrentar as questões de gestão da água”, apelou o responsável da UNESCO, lembrando que África alberga metade da população mundial que bebe água não segura.

Dimitri Sanga afirmou que a UNESCO está a focar as suas ações no continente e que a prova disso é que o 9.º Fórum Mundial da Água vai ser realizado no Senegal (Dacar), em 2021, e terá como tema a “Segurança Hídrica para Paz e Desenvolvimento”.

A 7.ª Reunião do Comité Regional de Pilotagem do Programa Hidrológico Internacional para a África decorrerá durante três dias, na cidade da Praia, numa parceria entre o Governo de Cabo Verde e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

O evento reúne especialistas em hidrologia, hidrogeologia, académicos e pesquisadores em recursos hídricos de 26 países africanos.

Além de fazer um balanço das atividades do PHI em África, os participantes vão ainda refletir e debater sobre os principais desafios do setor dos recursos hídricos no continente africano, tendo como pano de fundo os efeitos das alterações climáticas.