As 120 assembleias de voto estão finalmente prontas, de acordo com a comissão eleitoral independente (INEC), para eleger o chefe de Estado e o seu vice, assim como os 360 deputados à Assembleia Nacional e os 109 senadores.

Ainda que o número de eleitores registados ultrapasse os 84 milhões, apenas 72,8 milhões levantaram os respetivos cartões eleitorais, que permitem o voto eletrónico, representando 86,6 por cento do primeiro número, de acordo com o presidente da INEC, Mahmood Yakubu, na passada quinta-feira. O número de cartões não reclamados pelos respetivos titulares ultrapassa os 11 milhões, segundo o responsável.

Um número recorde de 23 mil candidatos concorre nos diferentes escrutínios, mas o duelo maior é o que coloca frente-a-frente o Presidente, Muhammadu Buhari, pelo Partido dos Congressistas (APC), e o seu adversário do Partido Popular Democrático (PDP), Atiku Abubakar, que disputam o cargo máximo do Estado.

Ambos são muçulmanos, provenientes do norte do país, onde o atual chefe de Estado mantém a sua popularidade, apesar de um mandato particularmente criticado pela generalidade dos nigerianos.

O país sai, a custo, de uma grave recessão económica e de uma grande vaga de insegurança que explodiu em vastas regiões do país, fustigadas pela ação do grupo radical islâmico, Boko Haram, ou pelas lutas entre pastores e agricultores, sobretudo nos estados Adamawa, Benue, Kaduna, Taraba e Plateau, que representam a “cintura fértil e central” da Nigéria, e que se saldaram por mais de 3.600 mortos em 2018, de acordo com a Amnistia Internacional.

Muhammadu Buhari, com 76 anos, pede aos eleitores um segundo mandato para concluir o trabalho em duas áreas a que o seu Governo alega ter dado prioridade e que já o elegeram em 2015: acabar definitivamente com a insurreição do Boko Haram e com a corrupção endémica no país.

Atiku Abubakar, com 72 anos, antigo vice-presidente entre 1999 e 2007, homem de negócios com interesses na distribuição de petróleo, agricultura, educação, entre outras áreas, apresenta-se como conhecedor dos meios empresariais, mas com uma reputação questionada por reiteras acusações de conflitos de interesses e de desvios de fundos.

A INEC, que assumiu a “responsabilidade total” pelo adiamento das eleições por razões de atrasos logísticos, deslocou mais de um milhão de agentes em todo o país e imprimiu 421 milhões de boletins de voto.

O presidente da INEC afirmou no momento em que anunciou o adiamento das eleições que a decisão assentava em “enormes” problemas logísticos num país com mais 191 milhões de habitantes, um assinalável défice de infraestruturas, onde a eletricidade continua esporádica ou inexistente em vastas regiões, ou onde os problemas de segurança persistentes ameaçam muitos milhões de eleitores.

Mahmood Yakubu rejeitou, por outro lado, as acusações de “interferências políticas” de um ou outro dos maiores partidos, que ao longo da semana se acusaram mutuamente de “sabotarem” o escrutínio, e garantiu na passada quinta-feira que as eleições serão mesmo realizadas este sábado.

As perdas diretas do adiamento das eleições previstas para o sábado passado podem alcançar os dois pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB) nigeriano, ou seja, cerca de 9 mil milhões de dólares (7,94 mil milhões de euros), de acordo com vários economistas nigerianos.

Mas a remarcação do pleito eleitoral pode vir a ter outras consequências, eventualmente mais graves, decorrentes do exacerbar das tensões, com os dois campos a multiplicarem as provocações ao longo da última semana.

Numa primeira declaração na passada terça-feira, após o adiamento das eleições, Buhari levantou uma polémica importante ao apelar ao exército e à polícia para tratarem “sem piedade” todos os que tivessem a intenção de defraudar as eleições.

A oposição, o Partido Popular Democrático (PDP), reagiu no dia seguinte, acusando Buhari de encorajar a justiça de rua e os crimes extrajudiciais, devolvendo o país ao seu passado de sucessivas ditaduras militares.

“O ‘general’ Buhari não é um democrata. Ele não acredita na democracia. É uma fachada”, disse então Abubakar, numa referência ao passado militar do seu adversário, que, antes de ascender à presidência nigeriana nas eleições de 2015, governou o país durante o período das ditaduras nos anos 80, na sequência de um golpe de Estado.

As eleições de 2015 desenrolaram-se quase sem violência, e foram as primeiras assinaladas como “livres e transparentes” desde o início do período democrático em 1999, após décadas de ditaduras militares e de golpes de Estado.

O ambiente criado com o adiamento das eleições há uma semana ameaça a repetição do mesmo cenário, ainda que esta não tenha sido a primeira vez que uma eleição foi adiada na Nigéria, desde o fim das ditaduras militares em 1999.

Em 2011, as eleições gerais foram adiadas por duas vezes, uma delas quando as votações tinham já começado, com o então presidente da comissão eleitoral a evocar uma situação de urgência relacionada com o facto de muitas estações de voto se encontrarem sem material eleitoral.

O país foi na altura palco de violências pós-eleitorais entre cristãos e muçulmanos que provocaram mais de mil mortos.

Em 2015, o governo do então Presidente Goodluck Jonathan adiou também o escrutínio por seis semanas, justificando a decisão com problemas de segurança no nordeste do país, relacionados com perturbações provocadas pelo grupo rebelde ‘jihadista’ do Boko Haram.

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