"Ontem à noite o advogado Fonseca morreu. Estava internado, por isso não compareceu ao julgamento", que começou em 8 de abril, disse Guillermina Mc Donald, advogada do extinto escritório, centro do escândalo que revelou como personalidades de todo o mundo ocultaram dinheiro.

Mc Donald, que não informou detalhes sobre as causas de morte, acrescentou que Fonseca, de 71 anos, morreu num hospital na Cidade do Panamá.

Ele e o seu colega Jürgen Mossack, nascido na Alemanha, mas residente no país da América Central há décadas, criaram o escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca. A Procuradoria do Panamá pediu 12 anos de prisão para cada um deles por lavagem de dinheiro, durante o julgamento, cujas audiências terminaram em 19 de abril.

"Lamento profundamente que Ramón Fonseca Mora tenha morrido sem poder limpar o seu nome e da sua firma perante uma acusação sem sentido", escreveu Daika Indira Levy, advogada de Fonseca, no Instagram.

O sindicato de advogados panamenhos lamentou a sua morte e expressou as suas condolências aos familiares e amigos.

Em 3 de abril de 2016, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) publicou os "Panama Papers".

A investigação, baseada em milhões de documentos procedentes do escritório Mossack Fonseca, revelou como personalidades mundiais da política, do desporto e da cultura ocultaram propriedades, empresas, bens e lucros para fugir aos impostos ou lavar dinheiro.

Para isso, criaram empresas opacas, através do escritório de advocacia panamenho, para abrir contas bancárias e criar fundações de fachada em vários países com o objetivo de ocultar o dinheiro, em alguns casos proveniente de atividades ilícitas, segundo a investigação.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e os ex-governantes de Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson; Paquistão, Nawaz Sharif; Reino Unido, David Cameron; e Argentina, Mauricio Macri; além da estrela argentina do futebol Lionel Messi foram alguns dos nomes citados à época.

O caso também afetou políticos portugueses. Uma investigação posterior do consórcio apontou três portugueses envolvidos, tratando-se dos antigos ministros Nuno Morais Sarmento (PSD) e Manuel Pinho (PS) e o antigo deputado socialista Vitalino Canas.

Segundo o Ministério Público, Mossack e Fonseca foram responsáveis por facilitar, através do escritório, a criação de sociedades opacas nas quais diretores da multinacional alemã Siemens depositaram milhões de euros à margem da contabilidade real da companhia.

Esse "caixa 2" terá sido utilizado para esconder dinheiro procedente do pagamento de comissões.

"Realmente houve uma grande injustiça (...) Reitero que tanto o meu parceiro como todas as pessoas que trabalharam comigo foram pessoas sérias, honestas e corretas", declarou Mossack no seu depoimento final em 19 de abril.

Devido ao escândalo, o escritório da Mossack Fonseca fechou, enquanto a imagem internacional do Panamá, acusado de ser um paraíso fiscal, foi gravemente afetada.